caminha, caminhando, poetando, vivendo como Deus me permite viver. É assim que vou. É desse jeito que sou. E aqui vão: notícias mensagens, poesias, crônicas, artigos, enfim, tudo que gosto e sou, parte dos caminhos que este caminhante procura seguir. Apenas isto!

domingo, 15 de novembro de 2009

Antípolis - a antirrepública

Segue, meus amigos,


Mais um poema. De protesto. Neste dia de Comemorações (Ha,ha,ha!!!)


Antípolis

(Ou “O corrupto”)


Seu rosto traduz

A face disforme.


Quebraram-lhe os cacos

Mosaico da decência.

O fäcies moralis se lhe desfigura.


Caem, por terra

Os poucos fragmentos

Honoris fragilis et horrendus

(Dis)ética...

Desalinhos!


Resta-lhe...

A lama.

O lago (pantanoso) da desonra,

Onde navega seu barco;

O lodo em que chafurda.


Onipotente proclama,

(A pólis sob seu jugo):

“Sou um deus,

O povo que exploda!!!”


Luiz Eduardo Caminha,

Ratones, Floripa, 15.11.2009

Dia em que deveria se comemorar

A Proclamação da “Rës-püblica”.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

coluna do caminha

Êta Colônia

No Brasil Colônia os coronéis do açúcar viviam no Nordeste. Hoje no Centro Oeste. Mas a prática é a mesma: vivem do erário público, melhor, do bolso do consumidor. O brasileiro, que paga impostos absurdos, convive com a adição de 20 a 25% de álcool na gasolina. A desculpa é um combustível mais limpo. Tudo engodo. Na real, garantimos parte da safra dos usineiros. Não para aí. Quando a safra cai, o preço sobe nas bombas. O Governo alardeia que somos auto-suficientes em petróleo desde 2007. Porque, então, não diminuem o percentual de álcool? Ou nos vendem gasolina pura? A resposta? Povo que não berra, paga! O coronelismo agradece.

Desculpa

Tudo por causa de uma tal de Reserva Energética Renovável – êta nome porreta! Enquanto isto o preço absurdo dos combustíveis é decidido na ante-sala do Gabinete da Presidência da República a Petrobrás atola-se em lucros. Sempre foi assim, inclusive agora, na era da auto-suficiência.

Vem mais

E já foi aprovada a adição de 5% de biodiesel no óleo diesel de petróleo. Os industriais do óleo vegetal agradecem. E dá-lhe a privatizar o dinheiro do contribuinte.

Lulário

Em entrevista para o jornal "Folha de S.Paulo" desta quinta-feira (22), o Presidente Lula saiu-se com esta: "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão". A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB reagiu por intermédio de seu secretário-geral, dom Dimas Barbosa: “Agora, Cristo não fez aliança com os fariseus. Pelo contrário, teve palavras muito duras para eles”. Cristo os chamava de hipócritas, raça de víboras, sepulcros caiados e por aí afora.

Fundação Sarney

Que coisa não? Quanta injustiça para com um acervo de um ex-Presidente da República. A Fundação José Sarney – aquela dos escândalos recentes de irregularidades com verbas públicas – vai fechar. Motivo? Depois das denúncias nenhum patrocinador quer ver seu nome vinculado com a instituição.

Pedágio

Não sou contra o pedágio, em que pese as rodovias terem sido construídas com o nosso dinheiro. Num país continental é preciso uma fonte permanente de recursos para mantê-las. Porém, o preço do pedágio é coisa de cadeia. O festerê é grande. As empresas – a maioria multinacionais – têm lucros muito superiores aos demais países do mundo onde existe a cobrança.

Culpa?

Desde os tempos de FHC é assim. Só que lá as empresas pagavam pelas rodovias privatizadas. Hoje recebem-nas de graça. O pedágio da era Lula diminuiu muito o valor, mas ainda é mais caro que em muitos países.

Negócio da China

Funciona assim: As empresas ganham as estradas feitas com nosso dinheiro. Fazem uma praça de pedágio, colocam um ou outro equipamento de segurança e passam a cobrar. Por exemplo: Eu quero montar uma casa de shows na Barra da Lagoa. Sim, tem que ser filé, tipo pub inglês. Coisa pra ganhar dinheiro. Falo com o governo que me dá terreno, casa e estoque. Eu entro e começo a faturar. Tal qual as estradas pedagiadas. Será que me dão uma boquinha assim? Ah! A caixa registradora eu compro, tá?

Em São Paulo

Na Rodovia dos Bandeirantes (duas a três pistas), a cada 40 Km há uma praça de pedágio. Cobram entre R$ 4,10 e 6,10 para carros de passeio ou por eixo, o que dá uma tarifa média de R$ 13,90 para cada 100 quilômetros. Na Rodovia Castello Branco o preço chega a R$ 14,40/100Km e na Raposo Tavares o valor é de R$ 4,50/100 Km.

Em Santa Catarina

Na BR-116 (uma a duas pistas), entre Curitiba e a divisa com o Rio Grande paga-se 5 pedágios de R$ 2,70 - uma média de R$ 3,20 cada 100 Km. Da divisa até Porto Alegre, pasmem, paga-se em média R$ 8,95. Na BR-101de Curitiba a Florianópolis, a cada praça R$ 1,10, o que significa em média R$ 2,00 cada 100 Km.

No Uruguai

Nas rodovias de duas a três pistas, o custo é de R$ 3,75 cada 100 Km. Mais caro que nos Estado Unidos. Mais barato que no Brasil. As estradas são construídas pelas concessionárias e os pedágios só são cobrados depois do trecho pronto.

Nos Estados Unidos

Na Florida Turnpike, de Miami a Orlando (4 pistas), uma das rodovias mais modernas do mundo, paga-se 01 dólar (R$ 1,80) cada 100 Km. O pedágio é opcional. O Governo oferece vias alternativas, com duas pistas, onde nada se paga. As estradas são construídas pelas concessionárias.

Comparando

Na Rodovia dos Imigrantes/SP, padrão semelhante às americanas, o preço a cada 100Km é R$ 50,00. Aplicada na Turnpike, daria uns 100 dólares para ir de Miami a Orlando. Certamente os americanos estariam na rua, fazendo protestos, quebrando tudo. Raiva de gente pobre e mesquinha!!!

Razão

Somos ou não um povo muito rico?

Lula e o TCU

O Presidente reclamou do Tribunal de Contas da União de emperrar as obras por desconfiar de superfaturamento. Quer que as obras continuem enquanto um Conselho analisaria as denúncias ou desconfianças. Casa de ferreiro, espeto de pau. No tempo de FHC seu partido quase parou o Brasil com denuncias a maioria infundadas.

Resgate Histórico

No dia 23 de março, Florianópolis comemora 277 anos de emancipação política. Fazemos uso de duas imagens do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina para homenagear a capital dos catarinenses.



















No podium

Florianópolis, por seus 277 anos.

Na guilhotina

O preço abusivo dos combustíveis no Brasil.

domingo, 25 de outubro de 2009

Coluna do Caminha

Prezados Amigos Leitores,

Depois de um tempo em hibernação passo a publicar novamente minha coluna que também estará à disposição no site PressFloripa no endereço http://www.pressfloripa.com.br/colunistas_noticias.php?col_id=29


Oktoberfest, outra vez!


Mais um ano de sucesso e recordes. Mais um ano da estéril discussão: qual será o futuro da Oktoberfest? É hora de mudar o discurso. A Oktoberfest é uma realidade, como a de Munique. Aos inteligentes cabe discutir formas de torná-la sempre mais atrativa e ponto de incremento ao desenvolvimento de Blumenau e Região. Um projeto de inclusão social, por exemplo, seria uma ótima pauta. Porque não usar parte do dinheiro arrecadado na construção de moradias populares, por exemplo? Ou, quem sabe, a cobrança de uma taxa nas contas de Hotéis, Restaurantes e comércio que permitisse mais bancos escolares, bolsas de estudo, preservação ambiental e por aí afora? Tá aí um assunto para a discussão na Câmara de Vereadores. Exemplos já existem.

Roubo

Mais um assalto ao bolso do contribuinte. Desde 2002, as distribuidoras de energia elétrica vem cobrando a mais nas contas. O rombo é de R$1 bi ao ano. Desde 2002 cerca de R$ 7 bilhões. Segundo a Folha de São Paulo “O governo sabe há dois anos, mas não fez nada para resolver”. São 63 distribuidoras no país que detém 63 milhões de ligações. Todos os consumidores regulares pagam o butim.

Pior

Conforme apurou a Folha o erro refere-se ao reajuste tarifário de 2002. De lá para cá se repete ano a ano o que permite o embolso indevido de dinheiro dos consumidores. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), responsável pelos cálculos, admite que o erro existe, mas diz que não pode exigir ressarcimento.
"[Ficar com o dinheiro] é eticamente discutível, mas isso que as distribuidoras estão fazendo é o que legalmente está constituído. Nós temos plena certeza que esse é um dinheiro que não pertence à distribuidora", diz David Antunes Lima, superintendente de regulação econômica da Aneel.

Sujeira

É criminoso o desleixo do brasileiro com o meio ambiente. O lixo que produz é jogado em qualquer canto. Cada um suja um pouco e chafurda na sujeira dos outros. Não têm qualquer compromisso com a comunidade e o meio ambiente. Questão cultural.

Parque Nacional

Foi isto o que pude ver em recente visita ao Parque Nacional de São Joaquim. Em meio à pinheiros centenários, rios caudalosos, cascatas magníficas, fazendas fantásticas, plantações de maçã, cereja, kiwi, uva, entre outras, lá estava, soberano, o lixo do turista e do habitante da região. Sacolas plásticas, copos descartáveis, pedaços de móveis e eletrodomésticos, latinhas de alumínio, garrafas. Um futuro Tietê em meio à natureza.

Bate e volta

Nascem, no Parque, onze rios. A maioria leva suas águas para oeste, em direção ao Rio Uruguai e depois ao Paraná e Rio da Prata. Lá embaixo, entre o Uruguai e Argentina chegam ao Atlântico. A piada de mau gosto: o lixo jogado ali vai sujar a Argentina. Mas as correntes o trazem de volta à costa brasileira. Sem contar o lixo que fica lá mesmo, no Parque. É como sujar no prato que se come.

LHS em alta

De dois tradicionais políticos da serra catarinense: “Nunca nenhum governador fez tanto, por São Joaquim e região, quanto Luiz Henrique da Silveira”.

Aliança

Enquanto o Governador se esforça para manter a tríplice aliança (PMDB, PSDB, DEM) lideranças da própria base – especialmente do PMDB – fazem o contrário. Apostam na candidata do PT, Senadora Ideli Salvatti. Querem romper a tríplice aliança e afinar o PMDB estadual com o nacional. Uma das figuras de proa nesta costura é o atual Prefeito de Bom Jardim da Serra, ex-deputado Rivaldo Maccari.

Mau negócio

Segundo uma fonte próxima à Casa d’Agronômica o PMDB nacional sofre a pior crise de identidade de sua história. Culpa do fisiologismo de Sarney, Renan, e outros. Um entrave para uma aliança com o PT no Estado. Além disso, LHS tem queixas do PT que sempre se comportou como oposição, com feroz animosidade e crítica a seu governo.

Agradece

A Senadora agradece as costuras. Afinal, sua expressiva votação para o Senado precisa apenas de um empurrãzinho para chegar ao Palácio. Este pequeno gesto viria do PMDB, com as devidas contrapartidas, lógico!!! Torce, pelo menos, para que o partido libere seus líderes regionais para apoiar quem queiram. Não seria novidade.

Palanque

Nem a queda do palanque foi capaz de afastar o governador interino Deputado Jorginho Melo/PSDB de sua extensa Agenda. Com desenvoltura Jorginho mostrou que tem todos os cacoetes para o cargo. Candidato? Jura que a Deputado Federal. Pra Governador, vai com o atual Vice Leonel Pavan/PSDB, com a tríplice aliança, afirma.


Apostas em Blumenau

Se depender do PMDB, Marcelino Campos será eleito deputado federal com o apoio dos CDLs. Décio Lima é bem cotado para re-eleição. Para Estadual, Gilmar Knaesel/PSDB é aposta exata, mas espera-se que Blumenau faça pelo menos mais um deputado estadual. Despontam 3 nomes: Giancarlo Tomellin/PSDB, Jean Kuhlmann e Ismael dos Santos, ambos do DEM. Ainda corre para re-eleição a deputada Ana Paula Lima. Convenhamos, é muito deputado para o mesmo espaço. No atual momento, empossados os suplentes, os quatro últimos têm cadeira no Legislativo Catarinense.


Resgate Histórico



Blumenau,

Rua 15 de Novembro,
altura de sua conexão com a atual Rua Itajaí.

Início do Século XX.










Bom Jardim da Serra,

Serra do Doze (atual Rio do Rastro),
Antes de sua pavimentação
Década de 1970/80.









No podium


O governador Luiz Henrique da Silveira pela atenção dispensada à cultura em nosso Estado e pelas ações em prol do desenvolvimento da Região Serrana no Planalto Central de Santa Catarina.

Na guilhotina

As distribuidoras de energia elétrica que, à sorrelfa, associam-se àqueles que vivem de vilipendiar o povo brasileiro.

Luiz Eduardo Caminha - MTb-SC 2966
Floripa, Distrito de Ratonas, 19.10.2009

O Rio das Olimpíadas

Um Rio Olímpico

2009, 02 de Outubro. O Rio será sede das Olimpíadas de 2016, a primeira da América do Sul. Escolha histórica e merecida.

1992, Olimpíadas de Barcelona. Desde a escolha, o Prefeito determina: a Olimpíada será o estopim de modernização da cidade numa urbe digna de seus cidadãos. Um projeto de inclusão. A área do porto, decaída pelo meretrício e criminalidade, transforma-se numa moderna Vila Olímpica. Os problemas foram encarados visando o pós-olimpíada. A cidade carrancuda torna-se uma alegre porta do Mediterrâneo. Barcelona renasceu para os barcelonetas. Acordou para o mundo.

1992. ECO-92. O mundo se volta para o conflituoso Rio de Janeiro. Ecologistas e celebridades políticas da Terra no Brasil. A cidade se prepara. Melhor: o aparato do Estado se prepara. Como? Com um projeto de exclusão. Dos pobres, dos marginalizados, das favelas. Uma cidade das celebridades foi isolada dum outro Rio. Um cinturão de soldados, armados até os dentes, isolava o problema de segurança, da cidade dos problemas: o Rio dos guetos, da criminalidade.

Rio 1997. Jogos Panamericanos. Novos sonhos, velhas promessas: urbanização, obras faraônicas, Vila Olímpica pensada para uma futura Olimpíada. Tudo como o cidadão espera. No que deu? Jogos, nota 10. Aparato Olímpico nota 100. Cerimoniais nota 1000. Urbe: nota zero. Projetos sociais, inclassificáveis. Mudanças de orçamento, desvios de recursos, corrupção. A história se repete. Novamente a exclusão. Exército nas ruas.

Sou a favor dos Jogos e do Rio - quem não seria? Mas espero que a Olimpíada traga alento aos cariocas. De atributos naturais extraordinários, dum povo alegre de uma amabilidade incomum, o Rio não pode mais se curvar aos paroxismos dos marginais e à negligência das autoridades. Que os Jogos sejam um marco de renascimento da outrora Maravilhosa Cidade, orgulho nacional. Mas que não ocorra de se marginalizar o ser humano. O projeto não pode se resumir a uma passarela de vaidades. Nem, tampouco, um manjar de corrupção. Todos querem ver a Cidade Maravilhosa transformada num Olimpo brasileiro, um panteão de glórias.

Que prevaleça o bom senso. Salve-se o Rio de suas mazelas e construa-se uma urbe digna para sua gente. Uma cidade que vive aos pés do Cristo Redentor não pode conviver com o paradoxo demoníaco dos contrastes mais inumanos existentes no mundo. A fome, a miséria, a criminalidade, a corrupção, o roubo, não combinam com o espírito do carioca, muito menos com os ensinamentos do Mestre. Que se volte a cantar: foi um Rio que passou em minha vida....

Luiz Eduardo Caminha

Floripa, Distrito de Ratones, 05.10.2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um inquieto poema

Inquietudes

Seria acaso
Azul,
A cor “escarlate”
Que corre, veias adentro,
A nobreza?
Oh! Nobre amada?

E ao se lhe ferir
O coração,
Seria sem cor
A cor do sentimento
Que lhe domina
A frigidez de seus atos?

Acaso se reveste
De rubro carmim
A vio(lácea)lenta paixão,
Quando se lhes é dado
Apaixonar-se?
Apaixonas-te tu, oh! Mulher?

Qual nada, dirão!
Nobres não tem sentimento
Apaixonam-se tampouco.
Pálida é, portanto,
A tez de seu coração.

Pálido também o é,
O sangue que lhe corre
As veias;
Esquálida,
A vida que é
Seu dia a dia.

Até que a morte
Lúgubre sombra esguia,
Na negritude da noite,
Sem lua,
Leve-a daqui.

Entrega-te
Oh! Nobilíssima amada
Ou assim será...

Luiz Eduardo Caminha
Distrito de Ratones, Floripa, 08.10.2009

domingo, 27 de setembro de 2009

Somos iguais perante Deus...

Quem é o maior?

“Tu és pó e ao pó tornarás” (Gênesis 3,19)

1978. Manchete: Descaso do governo na saúde. Médicos em greve. Eu fazia especialização no Rio de Janeiro e era do comando de greve. Reuniões infindáveis, discussões, negociações, assembléias. Os militares ameaçavam de urutus e o Exército, armas em punho, nos sitiava na Assembléia do Rio. Clima de guerrilha. Ao fim, algumas migalhas concedidas. Voltamos ao trabalho. Vitória de Pirro! Trinta e seis dias por quase nada.


Dias após, os lixeiros. Fedor de lixo acumulado nas calçadas, enxames de moscas toldando o céu. Uma semana. Tudo resolvido. O caos sanitário fez o Governo Municipal aceitar a maioria das reivindicações dos grevistas.

Vieram os motoristas de ônibus, profissional odiado pelos cariocas que os tinha como a escória. Gastei nove horas para fazer um trecho de quarenta minutos, de Vila Isabel ao Hospital, em Ipanema. Tudo engarrafado, buzinaço ensurdecedor. Doze horas de greve. O caos urbano elevou os motoristas à condição de gente. As empresas cederam a todas as reivindicações.

Qual destas categorias foi a maior? À luz da escala de valores estabelecida pelo status e por uma sociedade vítima do materialismo, a mais insignificante delas: os motoristas, seguida dos lixeiros e, por fim, nós, médicos. Uma inversão dos pés à cabeça.

Pode-se analisar estes episódios sob duas óticas: a paulina, inspirada provavelmente na milenar sabedoria dos vedas hindus: “o olho não pode dizer à mão: não preciso de ti. Nem a cabeça dizer aos pés: não necessito de vós. O corpo é um todo com muitos membros. Numa comunidade cada membro tem a sua função e todos formam um corpo cuja cabeça é o Cristo”, explica São Paulo. A outra visão é do próprio Mestre: “quem quiser ser o primeiro, seja o último, o servo de todos. Aquele que se tornar pequenino como uma criancinha, este será o maior... Quem se exalta será humilhado e quem for humilde será exaltado”.

Orgulho-me de ser médico. Minorar o sofrimento alheio e salvar vidas é função dignificante ante Deus e a sociedade. Mas, numa comunidade , não só o médico é importante. Todos o são. Costumo dizer: nascemos igualmente nus e ao morrermos, sejamos reis ou súditos, as minhocas comerão nossa carne. O importante é cada qual exercer sua função com humildade, visando o todo, a comunidade.
Bem diferente de alguns apaniguados do poder: a soberba os faz esquecer a comunidade a quem deveriam servir. Deus é quem está à sua direita. E o que vale é locupletar-se. Mateus, primeiro os meus! Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.

Luiz Eduardo Caminha
Distrito de Ratones,
Florianópolis, 27.08.2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Setembro, das flores, primavera, dos amores...

Lá embaixo, bem abaixo deste texto, vai uma poesia deste arremedo de poeta e escritor.

Setembro, mês que o ano todo, como parido em um momento, adentra à primavera, natureza sedenta da hibernação de “seu” inverno, sisudo, mal humorado, cinzento e frio. Seu inverno, sim, porque este à natureza pertence, pois que necessário se faz para que ela recobre as forças da eterna infância de um mundo que se fez velho porque o homem, este ser indócil, irrequieto, indomável e inconsequente, ancião o tornou, por seu agir. Mês que prosa e poesia se enfeitam, entrelaçam em laços que tentam colorir a aquarela da vida. Vida que explode em Outubro, em Francisco, o cantor das criaturas, o poeta maior que fez eco seu bradar pelos irmãos, pequeninos cacos dum prosaico mosaico, o mundo que vivemos. Vivamos Setembro, adentremos Outubro, com espírito renovado - já que o inverno se foi - pela primavera que espreguiça seu sorriso multicores, como se fosse possível tornar belo este disforme mundo multifacetado de misérias que nós, homens, compusemos a sorrir, com o mais absoluto cinismo.

Luiz Eduardo Caminha

Convido-os a visitar o Mural das Letras de Setembro/Outubro onde novos autores lá estão, a desfilar em nosso site Stammtisch Confrarias e Patotas...




Desilusão


Sonho,
Amargurado,
Agruras
Dum dia feliz...
Que não vem.

Sol, chuva,
Noite fria,
Lua nua,
Noite, dia,
Que se vão

Dia, noite,
Noite dia,
Cá espero.

A Felicidade?
Mera quimera,
Castelo d’areia.
Fere-me a alma.
Machuca-me
O coração que anseia
O vazio de sua ausência,
Preencher.

Tempo passa
Ela não vem
Nem a Felicidade,
Nem aquela,
Quem me dera,
Me pudera,
Fazer feliz...

Sorrir,
Quiçá,
Outra vez!!!

Luiz Eduardo Caminha
Floripa, Distrito de Ratones, 14.09.2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Blumenau, 159 anos

Blumenau revivida

Blumenau,21 de Agosto de 2009. O Prefeito João Paulo Kleinubing, ladeado pelo Diretor Erivaldo N. Caetano Junior e o gerente Alexandre P. Caminha, entregam à cidade o novo espaço do Procon e a Lei que regulamenta as atividades do órgão, entre elas o Poder de Polícia, que o torna mais eficaz. Presença do Vice-Governador Leonel Pavan, deputado Giancarlo Tomellin, vereadores, representantes do CDL, Sindilojas, entidades sindicais de trabalhadores, empresários. Clima de festa. Dia de cidadania. Festa de uma administração preocupada com os direitos do Consumidor. Blumenau 1 a 0.

Florianópolis, 23 de Agosto de 2009. Estádio da Ressacada, jogo Avaí x Flamengo. Arquibancadas e cadeiras tomadas. O Leão da Ilha em vias de se tornar o time que mais rodadas permanecera invicto na 1ª. Divisão do Futebol Brasileiro. 10 rodadas, mais precisamente.
De repente, acordes, som de instrumentos musicais. Nada das desafinadas bandinhas de torcidas. Uma verdadeira banda, du mann! O Prefeito JPK, ladeado pelo Presidente do Parque Vila Germânica, Norberto Mette, o Conselheiro Wilson Wan-dall, Princesas, Rainha e inúmeras autoridades, irrompem em meio à massa azurra. Promoviam a Oktoberfest 2009. Camisetas, canecos, chope, Ein Prosit! Todo o estádio, rádios e TVs se voltam para Blumenau. As cenas da tragédia de Novembro são relembradas em cada entrevista. O abnegado povo de Blumenau, mais uma vez, se supera e sobrepuja o infortúnio, mostra sua energia, como se quisesse humilhar a natureza pelos castigos que lhe impusera e... sai revivido!!! A voz de um manézinho se faz ouvir: “Blumenau! Dazum banho!” O Brasil inteiro ouviu pela TV o hino executado pela Banda Musical do Colégio Machado de Assis. Clima de alegria. Blumenau 2 a 0.

02 de Setembro de 2009. Blumenau, 159 Anos. A Rua XV revive a Wurststrasse colonial. Novo desfile, nova festa. Tudo novo, especialmente o espírito, a tenacidade, o Blumenauergeist, o desejo de vencer novamente, riscar da memória os rigores da tristeza. Só não se esquece o descaso do Governo Federal. Mais uma vez falta com a cidade, a região, o Estado. Como políticos da pior espécie, prometem e não cumprem!

Blumenau continuará produzindo, arrecadando impostos, esperando a esperança. Vencendo. Oktober à porta. Ein Prosit! Em 2010, uma nova Oktoberfest, uma nova eleição. Vai ter troco. Aqueles que prometeram e não cumpriram que esperem. Fahret zur Hölle!

Ah! Ia esquecendo: Avaí 3 a 0. Blumenau 1000 x 0.

Luiz Eduardo Caminha
Floripa, Ratones, 01.09.2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ensaios sobre a ética

Verdade e ética

Quando fiz minha Pós Graduação em Wiesbaden, Alemanha, um amigo brasileiro, neurocirurgião, que se especializava na vizinha Mainz me contou que seu mestre resolveu fazer um jantar para colegas da especialidade. Sua intenção: aproximá-lo da nata da neurocirurgia alemã, uma das melhores do mundo. Uma honra para meu amigo. Trinta dias se passaram e não se tocou mais no assunto. Na Alemanha a discrição é uma virtude. Assim, nem ousou perguntar a respeito. Já havia esquecido quando o Correio trouxe o convite. O jantar seria dali a 3 semanas, um Sábado, na mesma época que uns parentes do Brasil vinham visita-lo. Quando chegasse a hora daria um jeito de atender os dois compromissos.
Mas brasileiro é brasileiro e Sábado, na Alemanha, é igual a todo o mundo. Dia de sair, jantar fora, ir a um bar com amigos, celebrar a vida. O dia chegou e ele esqueceu. Melhor dizendo, acompanhou os parentes a Frankfurt, abusou um pouco, passou da hora e o jantar dançou.
Na segunda-feira, o mestre cobrou a desfeita. Como se faz no Brasil, mentiu dizendo não ter sido avisado da data. Mesmo que o mestre insistisse no envio do convite pelo correio, continuou mentindo: nada recebera.
Dias depois um policial bateu à sua porta com uma convocação para uma audiência. Motivo: uma queixa contra o Correio. O inquérito apurava se o carteiro – que afirmava ter entregado a correspondência – estava ou não mentindo. Mentir, na Alemanha, como em qualquer lugar do mundo, exceto o Brasil, é caso grave. Gravíssimo se vinda de um agente público. Envergonhado, foi à delegacia e contou a verdade. A desculpa: no Brasil isto é normal. Levou uma descompostura e uma ameaça de processo caso reincidisse.
Agora pasmem. Se pego por mentir, um processo seria aberto para punir o carteiro com a perda do emprego. Mais, o juiz estabeleceria uma indenização por danos morais, paga pelo Estado às vítimas. Afinal, Correio é um serviço público e deve cumprir suas obrigações com a sociedade. Ademais, lá, mentir é antiético.
Aqui, se bobear, meu amigo e o mestre seriam processados por danos à imagem dos Correios. O agente público, impune, seria digno de pena; a verdade considerada coisa de encrenqueiro e a mentira um artifício da oposição e da imprensa golpista. É só ver o exemplo de alguns funcionários públicos e dos nossos políticos em Brasília. Mentir aqui é a praxe. Dizer a verdade é ser inconveniente. Tudo acabaria em pizza!

Luiz Eduardo Caminha
Ratones, Florianópolis, 18.08.2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ensaios sobre a Ética

Prezados amigos,

Segue artigo que tive o prazer de ver publicado no Jornal Folha de Blumenau no endereço:

http://www.folhadeblumenau.com.br/site/noticia.php?noticia=7295&url=noticia.php?noticia=7295


Consciência e Ética


A desobediência de Adão e Eva impõe uma reflexão sobre o momento atual. O Criador entrega ao homem a criação e exige-lhe uma recíproca ética: “jamais comer do fruto da árvore do bem e do mal”. A serpente seduz a mulher: se comerem serão iguais a Deus. A proposta traz, no bojo, o dualismo maniqueísta: obedecer a Deus, o bem ou ceder ao mal, a serpente. Eva cede. Come o fruto, convence Adão e, daí, tomam consciência de que estão nus.

Tapam-se com folhas de parreira e se escondem. O questionamento do Criador é óbvio: não está em jogo a transgressão, mas a consciente liberdade em transgredir. Quem lhes revelou que estavam nus? Adão culpa Eva, que culpa a serpente. Resultado: A serpente condenada a rastejar o resto de seus dias; Adão e Eva expulsos do Paraíso e condenados a trabalhar.

Criado à semelhança do Criador o homem nasce com um sinal divino, a consciência, um sininho que o alerta quando algo é abominável. Alimentada de conceitos que apontam o certo e o errado permite ao homem diferenciar o bem do mal.

O livre arbítrio consente que escolha. Quando vem a ocasião, o sininho toca. Ele recua ou faz que não “ouve”. Se isto ocorre, o sininho cresce. Badala forte. O homem deixa-o de lado. E faz. E erra. E se vê nu. Vestir as folhas da parreira, como se fosse um camaleão, esconder-se, são outros quinhentos. E aí está o problema.

Cônscio do erro espera as consequências. Se lhe são favoráveis ou nem são notadas, se sente poderoso, um deus. Cometer outros deslizes é questão de tempo, “boca de siri”, paciência, oportunidade e... falta de vergonha na cara - Sêneca diria assim?

Do erro, o homem vai ao crime. Encarcera a consciência numa redoma, e silencia o sininho. Cria novos valores, novos paradigmas comportamentais. O mundo é dos espertos, dos que se locupletam. Adere a uma nova raça corrupta, sem ética, onipotente.

Quando flagrado nos desvios, usa a camaleônica máscara da hipocrisia: “não sabia que era errado” ou, pior, “não sabia nada disto”. Sabia, sim. E muito!!! O que lhe faltou foi probidade, ética e, sobretudo, a consciência de executar o bem. Faltou o sininho. Não é o que vem acontecendo na política nacional?

Deus foi inflexível com Adão, Eva e a serpente. E, como a voz do povo é a voz de Deus, resta-me a esperança em crer que o povo expulsará de vez, pelo voto, estas anomalias humanas do Paraíso Planaltino.

Luiz Eduardo Caminha
Floripa, Ratones, 11.08.2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Crônicas dum mané

Pois meus queridos amigos,

Aí vai mais uma crônica dum mané! Divirtam-se! Tem numerozinho com tradução lá no final.


Tás querendo u que, sô istepô!
Por Luiz Eduardo Caminha

Dia dessis recebi um i-meiu du mô amigo Jorge Müller, lá di Joinvilli, mas qui mora im Blumenau a uma carrada di tempo. Óia só o que qui eli dissi:

2009/6/22 Jorge Alberto Müller
Confrades bom dia! Amanhã pela manhã irei comprar os Mugilideos da ordem Perciformes e nome científico denominado de Chelon labrosus em Itajai. Tb comprarei algumas ovas q farei da seguinte forma: .....+ 1 l. de.....e + 4/3 de ... e uma pitada de.....diluido com conhaque fran......em 1/2 porção de....e levado ao forno 19 min.......então e servir com...... até lá!!
As Chelon labrosus segundo informações nesta quinzena estão mais saborosas pois as que não foram pegas ainda, já nadaram bastante e portanto estão mais magras e menos estressadas fazendo que sua carne fique mais suave e c/ baixíssimo índice de colesterol abaixo do prejudicial as artérias. Portanto viva as Chelon ..na areia importada da praia do Pinho(segundo o presidente Fred!). JORGE


Oi, ió, ió! U que qui é issu, guri?!
Foi assim co fiquei quandu li essi negócio. Aí ó. Non contei tempu. Respondi na horinha, puto dus córnus. Mas fiquei curiosu di sabê u que caquilo quiria dizê!

Qui nomi mais istrombóticu (1) é essi? Que qui essi alemão ta inventandu? comprar os Mugilideos da ordem Perciformes, um tar di Chelon labrosus? Tas querendu u que, sô istepô?! Nunca vi um nomi dessis na minha vida!
Devi sê di cumê, né? Purque u Jorgi ta falandu qui vai faze essi tróçu (2) lá nu Terça a todu vapô, nu Clubi Bela Vista! Devi di sê cumida!!!

Lá vem essis alemão digraçadu cum essis nomi du cão di novu. Chelon? Pareci é nomi di bucica (3). Ôtro dia foi u Braz, cum aqueli negóciu di dizê qui bacalhau não era bacalhau. Era um tar de Códi non sei u quê. Cód Gabus Morhua, foi u nomi qui eli invento pru bacalhau. Até hoji não inguli essi tróçu. To cá ispinha atravessada nu gogó(4)!
Agora vem u mô amigu Jorgi cum essi Chelon não sei das quanta. Assim não dá né!! Tas querendo me arromba, ô? O tás é querendu mi gozá, Jorge?
Mas qui devi di sê cumida, issu devi. I cumida du mar, purque u Jorgi tomem diz qui vai comprá im Itajaí! Muié da vida é qui não devi di sê. Essas tomém si comi, mas di outro jeitu, é craro! Mas issu não devi di sê! Lá nu Bela Vista, elis não deixo fazê issu! Nem cá vaca tussa!

I tem mais. Vai sê nu istamitichi dus terçaferino. Intão é cumida. Tem di sê!
Ah! Qués sabe u que qui é essi tar di istamitichi, né? Ô isplicu prumódintendê(5)! Istamitichi é u nomi qui us alemão dão pra uma roda di amigus qui si reuni todu u santu dia ou uma veis pur semana, só pra jogá conversa fora, tomá uns ferru(6), cume uma cumida ou jogá uma bolinha, um dominózinhu, uma botchinha ou ôtra coza qualqué(7). U importanti dessa rodinha é mermu tomá uns ferru. Bia gelada pra maioria. É paricidinhu cu’as nossa patota, as nossa rodinha.

Pois é! U Terça a todu vapô é um istamitichi qui si reuni toda as terça fera pra faze issu: toma uns ferru i cume uma cumidinha. Pur issu co achu qui essi tar di Chelon é mermu cumida. I ôtra! U Jorgi é um cuzinhêru dos bom. Faz rabada, caranguejada i tudu mais. Nunca isqueçu a rabada du Jorgi. Ê! Pó pará pur aí. Não é u qui voceis tão pensandu. É rabada di boi, mermu!!! Óia, a rabada du Jorgi é di lambe us beiçu!!! Agora, co nunca vi fala qui essi tar di Chelon é coza di cume, issu ô nunca vi.
Bem, u jeitu era i vê si tinha arguma coza nu pai dus burru, né?!
Piscurei(8) nu Orélio! Nada! Nu Micaélis! Nada! Vai vê, pensei cá cus môs botão, é nomi francês. Ô sei lá??? Arriscá não custa! Já qui a vaca tá indu pru breju mermu. Morra a Marta, morra farta! Vamu lá! Fui pru Michelin. Nada tomém! Nem nu Gugle incontrei arguma isplicação. Ô mo Santu Antonho! Ô, minha Nossa Sinhora da Lapa! Mi dá uma luz pru modo ô incontrá u que qui é issu. To já ficandu doidu di isquentá a mufa(9) di tantu piscurá. Essi istepô du Jorgi. Mi faze ficá incasquitadu(10) dessi jeito. Tu me pagas, sô lambisgóia(11). Sô ti incontro doti(12) di relho(13), só pra tu aprende.
Foi daí qui começaru a chegá as resposta pro i-maiu du Jorgi. Gente curiosa, querendo sabe qui merda(14) era aquilu. Genti querendu isplicação ou botandu mais lenha na fuguêra. Tava já virandu gozação!Tomém Um nomi dessis, só pudia dá falatório.

Chuveu resposta ao i-meiu du Jorgi, nu mô computadô.
I foi aí co discubri tudinhu! Qués sabê u que qui issu qué dize? Ô não dissi qui era coisa di cumê?? Mas voceis não vão acreditá! Só prus córnus du diabu! Começa qui essi tar di Chelon dus cambau a quatro(15) não é essi. É essa. É u nomi científicu das nossa tainha. Pódi issu? Não vi issu nem nu científicu, nem nu ginásio, nem na faucudade(16), nem im lugá ninhum aqui na isla. Im Flonóplis ninguém sabi dissu. Tainha é tainha, ô mané!!! Nem vem qui non tem ô! Nem mi istróva!(17) Tás tolo é? Pareci qui non reza(18), Ahn! Ahn! Ahn! Sai daí ô. Não mi intisica(19) não, sô intiquento.(20)

Até a Gracinha, aquela minha prima, filha da Tia Quita, qui é professora i criada nu Riberão, nu meiu dus pescado, non sabe disso. Duvideodó(21)! A manezada aqui nunca ôviu falá dissu. Nem u dotô Galvão e a a muié deli, a Cida, qui são formado em manezês na faucudade do Pântano do Sul sabiam dissu, sô amarelo(22).
Agora já si viu? Chamá a nossa tainha di Chelon sei lá du que!!! Só coza di alemão, mermo!!!

Daí, môs amigo, dispôs di sabê, fui obrigadu a mi alembrá quantas i quantas vezis ô cumi dessas bichinha. Cum ova, sem ova, iscalada, rechiada, frita im posta cum pirão di feijão, di tudu qui é jeitu! Na casa du Tiu Ernani i da Tia Zilma! Du tio Elson i da tia Dalva! No Brunu i na Iracema! Na tia Idalina i nu tio Geraldinu! Na casa du Ramón i da Terezinha, lá nu Reberão! Na casa dus môs irmão, u Bitinhu, a Anamaria! Nus môs quiridu cunhadu u Nei i a Malba. Na casa du seu Nilu Machadu, lá im São Miguel. Na casa du Bicudo, du seu Silviu Nocetti, lá na Praia di Fora. Mô Deus du céu! Cumi muitu dessas bichinha, im tudu qui é lugá i sempri nós chamava elas di tainha. Ahn! Ahn! Ahn! Chelon! Só pra ti mermo, alemão. Agora mi diz aqui: alemão di Joinvilli conheci di tainha? Só pudia dá nissu!

Óia! Ainda na semana passada cumemo uma, eu i a Seluta aqui em casa, cuns amigu lá di Brusqui. Rechiadinha com farofa di camarão, ova di tainha, muela, fígado i coração. Di tainha né o sô tanso!(23) . é purque tu non devi nem di sabê qui tainha tem muela, né? Qui nem galinha!.

Óia, nóis só non cumia muita tainha lá na casa da mãe i du pai purque u mô pai não suportava pexe.
Era o friu chegá, as vezis antes mermu du invernu i lá vinha e épuca das tainha. Vinham di monte. Us lançu(24) di rede, traziam pras praias uma, duas, cincu, à vezis quinzi, vinti tonelada da bichinha. Uma muntuêra(25). Era tainha a dá cum pau!(26). Ô coza linda di si vê, um lançu di tainha. I tem ôtra! Todu mundu qui ajuda a puxá a redi leva umas tainha pra casa. Duas, três, meia duza! Dependi da quantidade qui vem na redi. Tá certo! U ajudanti tem qui sê digêro(27). Vai até na pancada da maré(28), cum água nas canela, gruda na corda i vem aquela bicha(29) di ajudante puxandu... i puxandu..., até chegá incima da praia. Dai, quando si chega lá incima, tem qui saí na puada(30) i corrê até a pancada da maré di novu. I dá-lhe a puxá.

Óia genti! Voceis já viru água fervê, né?! Pôs quando a redi tá chegandu pertu, u mar ferve qui nem uma chalêra! Di tantu peixe! Daí, quandu u peixe tá tudo num monte na praia, começa a divisão. Tudu im montinhus. É lógicu qui us monti maió são dus pescadô, us camarada e du donu da redi i du barco qui foi ponhá a redi. Mas todu mundu leva tainha pra casa. É uma festa.

Mas vamu pará pur aqui quessas lembrança, purque mi dá munta tristeza. Minha mãe i mô pai, quanu a genti era piquenu, gostavam di nus leva pra vê essis lançu. Lá im Canasviera. Até na Lagoa, nu tempu qui ainda não tinha a avenida das rendêra, qui era tudu praia , tinha lançu di tainha. Di lembrá dus dois mi enchi us óiu di lágrima. Di saudade! Tão nu céu, ô sei! Mas a saudade aperta u coração da genti!
Posé(31), môs amigu! Intão tá!
Chelon labrosus é u nomi i sobrinomi das tainha. I vai tê festa nu Bela Vista. Vai te tainhada. Di todu tipu. Purque cuzinhá u Jorge sabi! Valeu Jorgi! Mas da próxima, tu vê si não mi inrola cum essis nomi distrambelhadu(32), vissi? Ô tu tás é querendu dá uma di bentivi di isgreja?(33)

Luiz Eduardo Caminha,
Ratones, Floripa, 23.06.2009

Prumódintendê

1. istrombóticu – estrambótico, esquisito.
2. tróçu – coisa
3. bucica – cadela guaipeca, vira-lata.
4. gogó – garganta
5. prumódintendê – de formas a entender
6. ferru – ferro, bebida alcoólica, cachaça.
7. quarqué – qualquer.
8. Piscurei – procurei
9. mufa – cabeça
10. incasquitadu – cismado
11. lambisgóia – metido
12. doti – te dou, dou-te;
13. doti di relho – dar uma surra.
14. merda – é merda (mesmo! Tás pensando o que o meu?) Ti peguei, hein?
15. us cambau – aos montes; us cambau a quatro, um monte e mais um pouco (uma enorme quantidade)
16. faucudade – faculdade
17. istróva – estorvar, atrapalhar, causar confusão.
18. Parece qui nom reza! – diz-se de uma pessoa que parece não ter muita convicção do que afirma ou diz-e para uma pessoa que conta algo muito fantasioso e inacreditável.
19. intisica – intica - cutuca com vara curta, perturba
20. intiquento – aquele que intica.
21. Duvideodó – duvido muito.
22. amarelo – diz-se quando se quer menosprezar ou fazer pouco caso de alguém.
23 tanso – atolesmado, pateta.
24. lançu – lanço. Lance de rede de pesca de cerco que se puxa na praia depois de colocada em torno do cardume por barcos. Toda quantidade de peixes que é pescado é chamada de um lanço.
25. muntuêra – grande quantidade.
26. a dá cum pau – em uma quantidade enorme.
27. digêro – ligeiro.
28. na pancada da maré – no lugar onde as ondas batem ao chegarem próximo da praia.
29. bicha – fila
30. puada – ligeiro, lépido, “na puada” – ligeiramente, rapidamente.
31. Posé - Pois é
32. distrambelhadu – destrambelhado, desarrumado.
33. dá uma di bentivi di isgreja – dar uma de bem-te-vi dea igreja – quando uma pessoa está querendo aparecer muito.

Que Deus os abençoe,

Caminha

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domingo, 21 de junho de 2009

Outono, folhas...esperanças

Amigos,

Vai aí, mais um de meus poemas. Espero que apreciem.

Fim de Outono, começo de inverno, folhas que caem, vida que hiberna. Nós, como as folhas, de passagem... O frio convida o aconchego.

Grande Abraço,

Que Deus os abençoe,

Caminha


Folhas de Outono

São como esperanças,
As Folhas de Outono.

Voam sem saber prá onde
O vento as leva.
Caem porque – urge que caiam!
Donde saíram,
Um broto nascerá.

São folhas, só folhas.
No solo, um tapete – nada mais!
Os pés que as pisam,
Errantes, apenas passam,
Que destino tomarão?

São como o futuro,
Os caminhos pisados,
Nas folhas de outono.
Incertos, imprecisos,
Calçadas de descalços.

Homens cruzam os caminhos,
Pés pisam as folhas,
A vida vai passando
Os passos se vão indo,
Rumo ao amanhã.

Assim mesmo,
Tão certo,
Como uma nova estação,
Como o inverno que virá!
Outono é caminho... de passagem!!!


Luiz Eduardo Caminha

Amor, Paz e Bem, que não custa nada a ninguém!

Floripa, Ratones, 03.05.2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

De poetas e velas

Prezados Amigos,

Um papel em branco, um mar, uma vela branca, um oceano, um poeta, um velejador.
Papel e vela prontos para serem rabiscados!
Navegam as rimas, escrevem as ondas,
Veleja a liberdade!

Aí vai mais uma ousadia de me fazer (ou querer) poeta, muito menos que navegador.

Que seja!


O POETA E O VELEJADOR


Escrever está
Para o poeta, um cantor,
Como velejar,
Para o navegador!!!

Ao poeta cabe velejar
Nos oceanos de si mesmo,
Ao navegador, largar-se ao mar,
Fazer, fora de si, viagens a esmo.

Naquele, a brisa faz a pena
Navegar sobre o papel,
Neste, o vento faz poema
Singrar seu barco, sob o céu.

Sonham ambos, devaneiam,
Cada noite, cada dia,
Ao brilho da lua vadia,
Delírios que vagueiam.

Assim, lá os dois, se vão.
Poeta a velejar,
Velejador a poetar,
A rima, o mar, fazem seu pão.

Em cada folha de papel,
A poesia faz viagem
A cada porto de passagem,
Uma amada espera, fiel.

No porto, esperam a viragem
No horizonte, oceano, céu.
Rabiscam poesias... num papel
Riscam cartas... de viagem!

Poesia navega... veleja afinal!

Luiz Eduardo Caminha
Floripa, Ratones.
Escrevinhada em 17.05.2005
Revisada em 14.06.2009


Amor, Paz e Bem, que não custa nada a ninguém!

Que Deus os abençoe,

Caminha

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domingo, 7 de junho de 2009

Réquiem à minha mãe

Faz uma semana

“requiem aeternam dona eis” – dá-lhes o descando eterno

Faz, hoje, uma semana que perdemos nossa mãe. Edy Ávila Caminha, a vó Edy. Ainda lembro. O sol de outono já declinava sua cabeça por trás dos montes, a luz do dia ia se apagando, o dia se findando, o crepúsculo anunciava uma noite estrelada. A pressa dos trabalhadores do Jardim da Paz denunciavam: temos que terminar antes que a noite chegue. Lembrei do sepultamento de Jesus. A correria - mal deu tempo para despedidas - nenhum osso quebrado, cumpria-se a Escritura.

O som das lápides de cimento colocadas por sobre o caixão, o roçar das colheres de pedreiro a vedar qualquer buraco que restasse, o surdo compasso do barro caindo sobre as lápides que encobriam uma urna de madeira, último descanso daquele corpo inerte. Ainda lembro de seu rosto sereno, parecia ter sido submetida à uma plástica facial. Irradiava luz, irradiava paz, irradiava esperança. Parecia disfarçar um sorriso de satisfação.

Hoje ainda sinto um sentir diferente. Não foi assim quando perdemos nosso querido pai Hamilton, nem quando nos deixou nosso irmão Luiz Fernando. A medicina ayurvética chama a isto de memória celular. Deepak Choppra traduziu-nos como memória quântica. Como se cada célula do corpo transmitisse a cada uma que lhe substitua, no frenético nascer-morrer de nossos tecidos, a carga de memórias vividas.

Talvez eles tenham razão. O que sinto, quem sabe, esteja ligado a isto. Ao fato de que cada filho experimentou transmitir àquele ser em formação, esperança do amor dos pais, nove meses de mensagens memoriais de um ventre, abençoado pela fecundidade. Talvez estas impressões sejam a causa deste jeito diferente de sentir. Não sei! O fato é que o sentimento da perda de uma mãe é, pelo menos para mim, diferente da perda de um pai ou um irmão. De todos sentimos a falta. De todos nos emocionou e levou às lágrimas a partida, o adeus final, de todos sentimos a tristeza e a dor fazendo morada em nosso coração. Mas no caso de uma mãe, assoma-se um outro sentimento de perda. Como se algo fosse arrancado de nós mesmos, talvez de nossas células. É como se morrêssemos também um pouco. Como se um vazio invadisse nosso coração e, como um tsunami, percorresse todo o nosso corpo. Um vazio ausência, como aquele cobertor que, nas noites mais frias, cisma em abandonar seu lugar, cair ao lado da cama, nos deixando expostos. É isto! Um cobertor. É a melhor ilustração que possuo. Este sentir é tal qual um manto que nos foi tirado em dia frio. A pele, a própria carne, sente que algo aconteceu. Um rompimento com a segurança, com a proteção. Que é diferente é!

É assim que sinto!

Eu creio, sim, na Igreja Universal, na comunhão dos santos, na Igreja invisível, na koinonia - união de todos os irmãos que crêem, os vivos e aqueles que já partiram. Entretanto, fica aquela percepção de ausência de proteção quando sabemos que ela, a nossa mãe, não está mais lá, fisicamente, ante seu oratório de inúmeros santos, a pedir intercessão por nós. Fica a sensação daquele elo quebrado que, dia a dia, minuto a minuto, em frente ao seu altar, defronte à Rede Vida, estava lá, a pedir pela gente. Falta aquele telefonema, uma, duas, três vezes ao dia, às vezes, a comunicarmos que tudo ia dar certo porque ela já havia orado a Deus. Nós poderíamos até esquecer, ela não. E esquecíamos não por negligencia. Sabíamos que ela estava lá. Como as freiras clarissas que lá estão, escondidas a orar pela humanidade, a preencher o espaço deixado pela falta de oração desta própria humanidade.

Eu sei! Eu sei! Agora ela não precisa mais fazer suas orações naquele oratório, na frente da televisão ao assistir a Rede Vida, de olhos fechados, na cama, ao desfiar as contas de seu rosário. Agora ela está lá! Despacha direto com Deus. Ela não precisa mais lembrar Maria, inúmeras vezes, para interceder por nós junto a seu Filho Jesus Cristo e a Seu Pai. Agora é Maria quem lhe dá a mão e lhe põe de joelhos defronte à sarça ardente, aos pés do Seu e Nosso Senhor. Não precisa mais confundir e assoberbar seus santos com pedidos para uns e para outros. Agora ela o faz pessoalmente, em união com eles, como se fosse um deles.

Há muitas outras coisas que se foram. As continuas trapalhadas, o falar rápido, o “tenho medo de ti, guri! Alguns palavrões que já foram, de tão inocentes, incorporados ao Aurélio, a insistente e inconfundível desconfiança, herança de São Tomé. Também não vai ter mais a subtração distraída de um carro estranho num estacionamento de um “shopping” porque a sua chave lhe coube no estojo, nem terá mais que reclamar com a gerência da loja porque o manequim de gesso da vitrine não lhe dera atenção, nem o fantasiar-se de mascarado vai haver mais.
Enfim, muitas coisas doces, hilárias, algumas tristes, a maioria alegres, ficarão na nossa lembrança até que partamos para, merecendo-o, encontrá-la. Sim, porque ela está lá. Já encontrou a todos. Nosso pai, que após sua morte roubou-lhe muito da vontade de viver e resmungar, seu amado segundo filho, um inconformismo que disfarçava magistralmente de todos, seus irmãos, sua mãe, a vó Mimosa, tantos outros e, sobretudo, Deus Pai, Jesus Cristo, Maria, nos quais acreditava tanto e tinha uma intimidade tão intensa como se dividisse, com eles, o espaço de seu apartamento.

Mas, por certo, estará vigilante, pelos seus, por nós, por todos os parentes, pelos amigos. Não tenham dúvida, ela não se conformará como o rico que pediu a Deus permitir que Lázaro avisasse seus parentes que o inferno existia. Com certeza, ela encherá tanto a paciência de Deus Pai que Ele a permitirá, sim, vir visitar-nos para dizer: o céu existe, o inferno também, façam tudo direitinho para virem para cá, para o céu, para a eternidade, onde estamos.

A Rede Vida perdeu uma fiel telespectadora. O Céu ganhou uma atriz, estrela de primeira grandeza.

Se não crêssemos nisto, como diz São Paulo, vã seria nossa fé.

Até breve, mãe! Até breve vó Edy.

Luiz Eduardo Caminha,
Ratones, Floripa, 05.06.2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Parafraseando Pessoa

Amigos,

Que me perdoe Fernando Pessoa, um dos maiores poetas portugueses, senão o maior, mas não dá para aguentar Brasília. Ela é a anti-poesia de Pessoa e seu mar não tem as cores do mar português ou de qualquer outro mar. Seu mar tem a cor de "burro quando foge", a cor da lama, aonde navegam fogosos marinheiros, acostumados, com raríssimas excessões, a vilipendiar o erário público, o povo brasileiro. Nem o mar do caribe viu tanta vilania.


Parafraseando Pessoa


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. (Fernando Pessoa em Mar Português)

...

Deus quis, Juscelino sonhou,

Lucio Costa planejou,

Niemayer projetou,

Burle Marx fez seus jardins,

E o diabo...


Plantou a corrupção,

Nas suas duas variedades,

O corruptor e o corruptível.


Nasceu Brasília, o Congresso,

A Esplanada, a Belacap.

A obra?

Não! Um cancro,

A espalhar metástases,

Brasil afora!


P.S. Pessoa imaginou um Portugal império que se consolidaria pelo imenso oceano, o mar português. Brasília também é oceano, também é mar... de lama e corrupção!


Luiz Eduardo Caminha,

Ratones, Floripa, 28.05.2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

nem tentem me calar!!!

Amigos,

Um caniço na beira do lago, uma voz no deserto, um uivo na escuridão, sei lá, não importa. Não me curvo com o vento, o deserto não me cala (mesmo que ninguém me ouça!), as trevas não me amedrontam. Então: brademos!!!



Liberdade, liberdade!


Não me ponhas normas,

Preceitos, nem regra.

Depois de tanta refrega,

Não hei de obedecer!


Não me imponhas grades,

Grilhões, nem cadeia.

Depois de tanta peleia,

Não hei de me prender!


Não me coloques canga

Ferros, nem algema.

Depois de tanta pena,

Não hei de fenecer!


Não me cales, enfim,

Nem queiras qu’eu fique mudo.

O que sobra do meu mundo imundo,

É o meu jeito de dizer!


Liberdade, liberdade,

Ainda que seja tarde.

Ainda que duvidoso,

O porvir, o alvorecer!

...

Minha voz é filha do silêncio,

Minha escrita, enteada do vento,

Minha vida é um curso d’água,

Minha vocação, um oceano!


Luiz Eduardo Caminha

Floripa, Ratones, 03.05.2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nova crônica

Uma nova ética na política

Luiz Eduardo Caminha

Ratones, Florianópolis, 13.05.2009


Na década de 1980, Chico Anísio criou o deputado Justo Veríssimo, seu único personagem político. Com ele, Chico fazia uma crítica social e, nas evasivas, criticava uma nova postura ética subjugada pelo corporativismo e pela corrupção. Justo Veríssimo era a caricatura do político imoral e aético chegado à armações e traquinagens. Qualquer semelhança era mera coincidência”.


Hoje, aquela caricatura parece real. Não são poucos os que utilizam, do povo, apenas e tão somente o voto para se eleger. A partir daí, divorciam-se do eleitor, tornam-se narcisistas e egocêntricos, criando, ao redor de seu umbigo uma órbita de favorecimentos pessoais ou que visam os seus apaniguados - desde que destes também tirem alguma vantagem.


Para Justo Veríssimo, o campo de atuação era aquele minado pelas falcatruas que definia como um novo regime político chamado “corruptocracia”. Ficou célebre seu discurso de lançamento deste novo regime num hipotético país chamado “Corruptolândia”, cuja capital era Corruptília”. Reparam a semelhança? Pois é mera coincidência com os tempos atuais:

“É com emoção e orgulho que me dirijo a esta constelação de ladrões, larápios, ladravazes, lalaus, especulatários, estelionatários e safados dos vários sexos hoje assumidos e conhecidos. Não estou querendo lisonjear os colegas de arrumação e locupletação...”, e por aí afora.


O emérito deputado (assim seria chamado hoje em dia, não?) cunhou dois bordões que ficaram conhecidíssimos: “Eu quero que o pobre se exploda” e “Pobre é que tem mania de ser honesto”. Foi fácil, depois, amplia-lo para os eleitores em geral: “O povo que se exploda”.


Pois agora, o nobre e douto (não é assim o tratamento?) deputado Sérgio Ivan Moraes (PTB/RS) resolveu plagiar Justo Veríssimo. Moraes foi nomeado relator, pelo Conselho de Ética da Câmara, no processo de falta de decoro parlamentar movido contra o deputado Edmar Moreira (MG), aquele do castelo de 25 milhões de reais, por suposto desvio de verbas indenizatórias de seu gabinete para pagar empresa de sua propriedade. Corre contra ele também um Processo no Supremo Tribunal de Justiça por sonegação de INSS – descontava dos empregados e não recolhia ao governo.


Nesta condição de relator Moraes, no alto de sua prepotência e divorciado do clamor popular, emitiu um juízo antecipado do colega: “estão querendo transformar o Deputado Edmar Moreira em “boi de piranha”. Inspirado na lide do tropeiro centro-oestino brasileiro, imprime uma nova dimensão ditada pelo corporativismo: a ética da boiada. Esquece que na ética do tropeiro o boi de piranha é sangrado e morto. Sacrfica-se um boi para as famintas piranhas, mas salva-se a boiada.


Não contente, Moraes ainda invade o mundo da desfaçatez, da indecência, imoralidade, da sacanagem mesmo, do caricato Justo Veríssimo, deixando no ar a fumaça e o cheiro de podridão que estamos cansados de ver e sentir em atos e arrumações de inúmeros iluminados de Brasília – ou seria Corruptília?


Instado pela imprensa e fiel à cartilha de Justo Veríssimo, Moraes pronuncia seu édito de imperador da indecência: “Estou pouco me lixando para a opinião pública” ou fazendo paralelo ao bordão:“O povo que se lixe”. Foi mais além. Em resposta à imprensa que o fustigava cunhou um novo bordão que pecha seus eleitores de burros: “Vocês batem, batem e a gente se reelege”.


O mais deplorável aconteceu na tarde desta quarta-feira. Reunidos, a maioria dos membros do Conselho de Ética e lideranças de partidos aliados, tentavam minimizar as declarações de Moraes, protegendo-o sob o manto do corporativismo, mesmo que o próprio tenha considerado infeliz a sua declaração, embora deixasse claro que não a retirava. O que importa, para eles, a ética na política? Que se danem todos que a defendem. Que se lixe o povo. Vivas à corporação!


A reação do Presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), não podia ser outra: usando da prerrogativa que lhe dá o cargo, destituiu o relator, nomeando o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) para substituí-lo.


Acabou? Não! Com a empáfia de um “cara de pau” e certo da impunidade que campeia neste Brasil, Moraes vai recorrer ao STF apelando para um Mandado de Segurança que lhe permita retomar o cargo. Ético seria se Sua Excelência, o nobre deputado (sim, porque ele continua sendo uma excelência e nobre) procurasse o STF, com a mesma vontade, a fim de esclarecer as dúvidas que pairam sobre ele nos processos que lá correm contra ele desde os tempos em que foi Prefeito de Santa Cruz do Sul.. Mas isto é outra história. De acordo com o corporativismo e com a prática tropeira, agora denominada ética da boiada, é “coisa pra boi dormir”. Só que salva-se boi e boiada e que morra o povo, transfigurado em famélicas piranhas. Dá para aguentar?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

poema

Vai aí minha homenagem à todas as mães. Este ser tão singular que, ao se fazer homem em Jesus Cristo, Deus quis ter uma.

M A M Ã E
Luiz Eduardo Caminha


Suave, aos poucos, a música tomava o ar lentamente,
Da luz, as centelhas, enchiam de magia, o ambiente,
Trazido por anjos, um arco-íris depunha, qual tesouro, o berço iluminado,
Envolta em alvas roupas, trombetas a anunciar, ela nascia.

De tudo tomou conta, o silêncio,
Dos grilos e cigarras, o cantar,
Dos pássaros, o chilreio, das cascatas, o espolcar.
Até das matas, o barulho se fez calar.

Do berço, as mãos de Deus a tomaram (pequeno ser),
Anjos, potestades, querubins se prostraram,
À gentil palmada, um choro, rasgou aquele mágico instante.
Uma voz, tonitroante, sacudiu todas as estruturas.

Nascestes, oh! Criança! Fruto da semente plantada ao ventre,
Broto da rama, angelical expressão do Amor.
És a lúcida imagem da mulher que te gerou, há de te ver crescer,
És o prêmio, troféu de alegrias, glórias e dores,
Daquela que, por ti, se fez mãe.

Agora, és adulto indócil, irrequieto,
Seguistes tua vida,
Depois que a segurança, da barra de sua saia,
Se tornara, para ti, um estorvo.

Em ti, porém, uma semente divina foi plantada,
Semente da árvore da doce saudade,
Do querer insistente daqueles dias,
Do tempo em que todo o seu tempo, seu vigor, ela dispensava,
Guardiã majestosa do teu crescer.

Em ti, esta semente,
Gerará a árvore da lembrança,
Do querer sempre latente,
De voltar a ser criança.

Nem que seja para desfrutar momentos,
Por ti curtidos, ou sequer vividos,
Instantes inocentes, alegres, joviais,
Sonhos, devaneios, da infância revivida.

Hiatos, em que tu chegavas,
Sem que se ouvisse o ladrar dos cães,
E lá estava ela, sorridente, cálida,
Pronta prá te permitir balbuciar: mamãe!!!

Floripa, Ratones, 03.05.2009

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Crônica

Depois de 3 meses de marchas e contramarchas com meu probleminhas de saúde (desta vez a anemia foi severa e nem conseguia concatenar as ideias), sinto-me um pouco melhor e ouso recomeçar umas “escrevinhadas”.
Segue, então, mais uma de minhas crônicas.

Desculpem a ausência. E me aturem! Estou começando a voltar. Devagarito como enterro de viúva rica.


Sobre a hipocrisia e a verdade

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Rui Barbosa.


22 de Abril de 2009. Assisto mais dois episódios da comédia chamada Brasil. O bate-boca no Supremo Tribunal Federal e no Congresso. Na Câmara Federal o episódio toma tons de picardia. O chamado baixo clero, agora com alguns aliados do alto clericalismo se digladiam por causa da “farra das passagens aéreas”. Mas o pitoresco Vossa Excelência é que dá o tom. Vossa Excelência prá lá, Vossa Excelência pra cá. Jogo de oratória, briga de terreiro ou rinha de galo? Sei não!!!.

Culpa do português, a nossa língua, última flor do lácio, cheia de sutilezas e nuances, hoje com a nova roupagem da reforma ortográfica. Em que pese esta “débâcle” ultrajante do nosso modo de escrever, a prática oral continua a mesma. Máscaras e vernizes denotam a hipocrisia do palavreado de efeito, cheio de firulas, de construções fricotadas que tentam atenuar a única obsessiva verdade: o que se diz não é bem o que se quer dizer, Vossas Excelências que não se ofendam.

Tentam esconder o que não se pode mitigar. Amo nossa língua. Nela, o branco não é bem branco é, quiçá, perdoem-me Excelências, uma pálida ausência de cor. O preto não é bem preto, nem negro, é um afro desiderato dos tempos modernos onde proferir uma verdade parece ofender e ser real, uma afronta. E por aí vão as excelências e hipocrisias como se falar a sério, defender o justo, ser honesto, íntegro e ético, fosse coisa de encrenqueiros, mal humorados e radicais. É seu Rui, começo a ter vergonha de ser assim. No tempo de minha avó, “Excelências” era uma oração cantada em dias de tempestades, raios e trovoadas. Para espantá-las. Hoje é um requinte lingüístico para doirar a hipocrisia.

Vejamos algumas destas idiossincrasias do vernáculo. Antigamente, homem que se deixava sodomizar por outro homem era bicha mesmo, frutinha ou, sem usar a finesse que os hipócritas de hoje exigem, viado. Viado sim, com i. Porque veado era aquele bicho cheio de galhos na cabeça. A nova norma é chamá-los homossexuais ou, importando a macaquice, “gays”. Posso até levar um processo por causa disso. Sei lá! Chamar quem é traído de corno, chifrudo, nem pensar. Melhor dizer, pessoa que usa enfeites na cabeça. Mulheres praticantes do baixo meretrício, as meretrizes, não são mais putas, são profissionais do sexo. Os dicionários que tirem este verbete de sua lista.

Nesta nova versão do português hipócrita, em substuição ao casto, não se pode mais chamar ninguém de mentiroso. Mesmo que este seja o maior de todos. O correto, agora, é dizer: Vossa Excelência me respeite! Vossa Excelência está faltando com a verdade. Como se faltar com a verdade não fosse o mesmo que mentira.

Ladrão, não é mais ladrão. Ainda mais se for da alta sociedade. Ladrão agora não é mais criminoso. Afinal ele só furta ou subtrai um bem ou bens de outrem. Bem feito!

Ética, então, nem falar. O que fizeram dela, da Moral, do decoro, temas tão estudados por filósofos como Platão, Aristóteles, Hipócrates? Isto para não apelarmos para o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo ou para Francisco de Assis, Lutero, Ghandi, Martim Luther, entre outros que pregaram a respeito. Hoje, nada mais são que práticas em extinção ou, na melhor das hipóteses, fugindo deste veredito, soam à gozação, baboseira, ingenuidade.

É, a coisa está feia. Ou melhor, despida de beleza, Vossa Excelência que me perdoe. Parece que os sentidos despertaram para a prática do reino da mentira, da falsidade, da cupidez, da imoralidade, da vergonha. O mundo virou. De ponta-cabeça. Os ianques, começando pelos “cow-boys” Reagan e Busch Pai mataram Brentwood e a mentira americana do consumo vai gerar 4,1 trilhão de dólares de prejuízo. Dinheiro? Que nada! Papéis! Títulos! Até o Bispo Fernado Lugo, enquanto padre, confessa ter tido um filho. Já são seis! Opash assume um filho de Raji fora do casamento e Maya está grávida de um Dalit. A Globo corrompendo os costumes hindus. Ainda tem alguma coisa de pé? Tem sim. A mentira ou, data vênia, a falta com a verdade.

Porém, nem tudo está perdido. De onde menos se espera vem a solução. Aquela parcela da classe política que domina estes meandros, a turma do baixo clero, dá um drible no português, na verdade, nesta coisa “démodé” e edita uma nova reforma. A receita? Antepor a cada verdade, a cada princípio moral, a cada enunciado ético, a cada palavra ou palavrão algumas magníficas e eloqüentes figuras de linguagem que conferem uma nova farda polida e cortez – embora hipócrita – ao discurso. Simples.

Alguns exemplos: use sistematicamente os termos Vossa Excelência, Vossa Senhoria, digníssimo senhor, eminente senhora, honroso cidadão e por aí vai. Antes de deitar palavrão, xingar, avacalhar, ou coisa pior tente o charmoso “data vênia” ou “com a devida vênia”. Ô, coisa linda que fica! Coisa de lordes ingleses. Experimente. Sim porque, agora, está definitivamente decidido: Só se pode dizer verdades, soltar palavrão, xingar, ou usar de termos diretos, na veia, se recorrermos a estes adornos retóricos.

Aliás o modelo já fez escola, haja vista o imbróglio do Supremo. “Lex sed lex”. Pois, façamos o mesmo. Quando quisermos, por exemplo, dizer que um determinado humanóide é um filho de uma prostituta, digamos: Com a devida vênia à digníssima senhora sua genitora, Vossa Senhoria é um eminente f.d.p. (com todas as onze letras), ou quem sabe, Vossa Excelência me perdoe, o nobre e eminente colega é um grandessíssimo e digníssimo filho da puta.

Nunca é tarde lembrar que a forma mais contusa ainda faz gênero, desde que se disfarce como o matuto mineiro, que para dizer a mesma coisa, pergunta ao incauto: “Ocê num é fio da Candinha? Cumi muuunto a sinhora sua mãe!” Sou mais o matuto. Rui Barbosa tinha razão. Tenho dito.

Luiz Eduardo Caminha, Ratones, Floripa, 23.04.2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sou, mesmo, um otimista!

Prezados Amigos,

Aí vai minha primeira incursão no Blog em 2009. Como acredito que cada um de nós, desde que faça a sua parte, pode somar esforços para mudar este mundão de Deus, vou de poema. Um poema que retrata nada mais que este óbvio que, de tanto, ulula (Epa! não é o Lula, nem a lula, aquele molusco que se confunde, às vezes, com o Presidente). Ulula do verbo ulular, que o Aurélio assim define:

ulular [Do lat. ululare.] - Verbo intransitivo.
1.Soltar (o cão) voz triste e lamentosa; ganir, uivar.
2.Gritar ou uivar, produzindo som plangente.

Então tá dito. Aí vai:

Ah! Um recadinho: "Tudo o que desejares que o outro te faça, fazei-o, tu, primeiro a ele" (Evangelho de Mateus 7,12)

Que Deus abençoe a todos.

Amor, Paz e Bem que não custa nada a ninguém.


Otimista


Sim, sim!
Eu sei que sou!
Um otimista prepotente.
Compulsivo e compulsório.

Forjado no talhe da ideologia,
No malho da consciência.
Ideológica, idiosincrásica,
Idiopática...mente.
Que, às vezes, mente,
Para dizer verdades,
Ou verbetes,
De uma vida.

Sou crítico,
Mordaz
Lúgubre,
Mas poço profundo,
De sonhos
E esperanças.

Quem disse que não vou mudar o mundo?
Vou sim! Se vou!
Você vai ... também!
Ele vai, nós vamos!
Cada um de nós,
Erráticos cidadãos
Deste planeta Gaya, vai!

Para melhor...
Ou para pior.
Basta querer,
Basta viver,
Dia após dia.

Não há um só
Que ao ocaso chegue,
Sem que marcas fiquem
De nossa passagem,
De nossas ações.
Como rastros
De nossos pés,
Rastejantes,
O sol por testemunha,
O pó como rastilho.

O que virá?
Depende do rumo,
Do norte que
Quisermos singre,
A nossa nau,
A nossa nave mãe...
Terra.

Tenho (ainda) esperança,
Sou otimista!

Luiz Eduardo Caminha
Ratones, Floripa, 06.01.2009