caminha, caminhando, poetando, vivendo como Deus me permite viver. É assim que vou. É desse jeito que sou. E aqui vão: notícias mensagens, poesias, crônicas, artigos, enfim, tudo que gosto e sou, parte dos caminhos que este caminhante procura seguir. Apenas isto!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

nem tentem me calar!!!

Amigos,

Um caniço na beira do lago, uma voz no deserto, um uivo na escuridão, sei lá, não importa. Não me curvo com o vento, o deserto não me cala (mesmo que ninguém me ouça!), as trevas não me amedrontam. Então: brademos!!!



Liberdade, liberdade!


Não me ponhas normas,

Preceitos, nem regra.

Depois de tanta refrega,

Não hei de obedecer!


Não me imponhas grades,

Grilhões, nem cadeia.

Depois de tanta peleia,

Não hei de me prender!


Não me coloques canga

Ferros, nem algema.

Depois de tanta pena,

Não hei de fenecer!


Não me cales, enfim,

Nem queiras qu’eu fique mudo.

O que sobra do meu mundo imundo,

É o meu jeito de dizer!


Liberdade, liberdade,

Ainda que seja tarde.

Ainda que duvidoso,

O porvir, o alvorecer!

...

Minha voz é filha do silêncio,

Minha escrita, enteada do vento,

Minha vida é um curso d’água,

Minha vocação, um oceano!


Luiz Eduardo Caminha

Floripa, Ratones, 03.05.2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nova crônica

Uma nova ética na política

Luiz Eduardo Caminha

Ratones, Florianópolis, 13.05.2009


Na década de 1980, Chico Anísio criou o deputado Justo Veríssimo, seu único personagem político. Com ele, Chico fazia uma crítica social e, nas evasivas, criticava uma nova postura ética subjugada pelo corporativismo e pela corrupção. Justo Veríssimo era a caricatura do político imoral e aético chegado à armações e traquinagens. Qualquer semelhança era mera coincidência”.


Hoje, aquela caricatura parece real. Não são poucos os que utilizam, do povo, apenas e tão somente o voto para se eleger. A partir daí, divorciam-se do eleitor, tornam-se narcisistas e egocêntricos, criando, ao redor de seu umbigo uma órbita de favorecimentos pessoais ou que visam os seus apaniguados - desde que destes também tirem alguma vantagem.


Para Justo Veríssimo, o campo de atuação era aquele minado pelas falcatruas que definia como um novo regime político chamado “corruptocracia”. Ficou célebre seu discurso de lançamento deste novo regime num hipotético país chamado “Corruptolândia”, cuja capital era Corruptília”. Reparam a semelhança? Pois é mera coincidência com os tempos atuais:

“É com emoção e orgulho que me dirijo a esta constelação de ladrões, larápios, ladravazes, lalaus, especulatários, estelionatários e safados dos vários sexos hoje assumidos e conhecidos. Não estou querendo lisonjear os colegas de arrumação e locupletação...”, e por aí afora.


O emérito deputado (assim seria chamado hoje em dia, não?) cunhou dois bordões que ficaram conhecidíssimos: “Eu quero que o pobre se exploda” e “Pobre é que tem mania de ser honesto”. Foi fácil, depois, amplia-lo para os eleitores em geral: “O povo que se exploda”.


Pois agora, o nobre e douto (não é assim o tratamento?) deputado Sérgio Ivan Moraes (PTB/RS) resolveu plagiar Justo Veríssimo. Moraes foi nomeado relator, pelo Conselho de Ética da Câmara, no processo de falta de decoro parlamentar movido contra o deputado Edmar Moreira (MG), aquele do castelo de 25 milhões de reais, por suposto desvio de verbas indenizatórias de seu gabinete para pagar empresa de sua propriedade. Corre contra ele também um Processo no Supremo Tribunal de Justiça por sonegação de INSS – descontava dos empregados e não recolhia ao governo.


Nesta condição de relator Moraes, no alto de sua prepotência e divorciado do clamor popular, emitiu um juízo antecipado do colega: “estão querendo transformar o Deputado Edmar Moreira em “boi de piranha”. Inspirado na lide do tropeiro centro-oestino brasileiro, imprime uma nova dimensão ditada pelo corporativismo: a ética da boiada. Esquece que na ética do tropeiro o boi de piranha é sangrado e morto. Sacrfica-se um boi para as famintas piranhas, mas salva-se a boiada.


Não contente, Moraes ainda invade o mundo da desfaçatez, da indecência, imoralidade, da sacanagem mesmo, do caricato Justo Veríssimo, deixando no ar a fumaça e o cheiro de podridão que estamos cansados de ver e sentir em atos e arrumações de inúmeros iluminados de Brasília – ou seria Corruptília?


Instado pela imprensa e fiel à cartilha de Justo Veríssimo, Moraes pronuncia seu édito de imperador da indecência: “Estou pouco me lixando para a opinião pública” ou fazendo paralelo ao bordão:“O povo que se lixe”. Foi mais além. Em resposta à imprensa que o fustigava cunhou um novo bordão que pecha seus eleitores de burros: “Vocês batem, batem e a gente se reelege”.


O mais deplorável aconteceu na tarde desta quarta-feira. Reunidos, a maioria dos membros do Conselho de Ética e lideranças de partidos aliados, tentavam minimizar as declarações de Moraes, protegendo-o sob o manto do corporativismo, mesmo que o próprio tenha considerado infeliz a sua declaração, embora deixasse claro que não a retirava. O que importa, para eles, a ética na política? Que se danem todos que a defendem. Que se lixe o povo. Vivas à corporação!


A reação do Presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), não podia ser outra: usando da prerrogativa que lhe dá o cargo, destituiu o relator, nomeando o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) para substituí-lo.


Acabou? Não! Com a empáfia de um “cara de pau” e certo da impunidade que campeia neste Brasil, Moraes vai recorrer ao STF apelando para um Mandado de Segurança que lhe permita retomar o cargo. Ético seria se Sua Excelência, o nobre deputado (sim, porque ele continua sendo uma excelência e nobre) procurasse o STF, com a mesma vontade, a fim de esclarecer as dúvidas que pairam sobre ele nos processos que lá correm contra ele desde os tempos em que foi Prefeito de Santa Cruz do Sul.. Mas isto é outra história. De acordo com o corporativismo e com a prática tropeira, agora denominada ética da boiada, é “coisa pra boi dormir”. Só que salva-se boi e boiada e que morra o povo, transfigurado em famélicas piranhas. Dá para aguentar?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

poema

Vai aí minha homenagem à todas as mães. Este ser tão singular que, ao se fazer homem em Jesus Cristo, Deus quis ter uma.

M A M Ã E
Luiz Eduardo Caminha


Suave, aos poucos, a música tomava o ar lentamente,
Da luz, as centelhas, enchiam de magia, o ambiente,
Trazido por anjos, um arco-íris depunha, qual tesouro, o berço iluminado,
Envolta em alvas roupas, trombetas a anunciar, ela nascia.

De tudo tomou conta, o silêncio,
Dos grilos e cigarras, o cantar,
Dos pássaros, o chilreio, das cascatas, o espolcar.
Até das matas, o barulho se fez calar.

Do berço, as mãos de Deus a tomaram (pequeno ser),
Anjos, potestades, querubins se prostraram,
À gentil palmada, um choro, rasgou aquele mágico instante.
Uma voz, tonitroante, sacudiu todas as estruturas.

Nascestes, oh! Criança! Fruto da semente plantada ao ventre,
Broto da rama, angelical expressão do Amor.
És a lúcida imagem da mulher que te gerou, há de te ver crescer,
És o prêmio, troféu de alegrias, glórias e dores,
Daquela que, por ti, se fez mãe.

Agora, és adulto indócil, irrequieto,
Seguistes tua vida,
Depois que a segurança, da barra de sua saia,
Se tornara, para ti, um estorvo.

Em ti, porém, uma semente divina foi plantada,
Semente da árvore da doce saudade,
Do querer insistente daqueles dias,
Do tempo em que todo o seu tempo, seu vigor, ela dispensava,
Guardiã majestosa do teu crescer.

Em ti, esta semente,
Gerará a árvore da lembrança,
Do querer sempre latente,
De voltar a ser criança.

Nem que seja para desfrutar momentos,
Por ti curtidos, ou sequer vividos,
Instantes inocentes, alegres, joviais,
Sonhos, devaneios, da infância revivida.

Hiatos, em que tu chegavas,
Sem que se ouvisse o ladrar dos cães,
E lá estava ela, sorridente, cálida,
Pronta prá te permitir balbuciar: mamãe!!!

Floripa, Ratones, 03.05.2009