caminha, caminhando, poetando, vivendo como Deus me permite viver. É assim que vou. É desse jeito que sou. E aqui vão: notícias mensagens, poesias, crônicas, artigos, enfim, tudo que gosto e sou, parte dos caminhos que este caminhante procura seguir. Apenas isto!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ensaios sobre a ética

Verdade e ética

Quando fiz minha Pós Graduação em Wiesbaden, Alemanha, um amigo brasileiro, neurocirurgião, que se especializava na vizinha Mainz me contou que seu mestre resolveu fazer um jantar para colegas da especialidade. Sua intenção: aproximá-lo da nata da neurocirurgia alemã, uma das melhores do mundo. Uma honra para meu amigo. Trinta dias se passaram e não se tocou mais no assunto. Na Alemanha a discrição é uma virtude. Assim, nem ousou perguntar a respeito. Já havia esquecido quando o Correio trouxe o convite. O jantar seria dali a 3 semanas, um Sábado, na mesma época que uns parentes do Brasil vinham visita-lo. Quando chegasse a hora daria um jeito de atender os dois compromissos.
Mas brasileiro é brasileiro e Sábado, na Alemanha, é igual a todo o mundo. Dia de sair, jantar fora, ir a um bar com amigos, celebrar a vida. O dia chegou e ele esqueceu. Melhor dizendo, acompanhou os parentes a Frankfurt, abusou um pouco, passou da hora e o jantar dançou.
Na segunda-feira, o mestre cobrou a desfeita. Como se faz no Brasil, mentiu dizendo não ter sido avisado da data. Mesmo que o mestre insistisse no envio do convite pelo correio, continuou mentindo: nada recebera.
Dias depois um policial bateu à sua porta com uma convocação para uma audiência. Motivo: uma queixa contra o Correio. O inquérito apurava se o carteiro – que afirmava ter entregado a correspondência – estava ou não mentindo. Mentir, na Alemanha, como em qualquer lugar do mundo, exceto o Brasil, é caso grave. Gravíssimo se vinda de um agente público. Envergonhado, foi à delegacia e contou a verdade. A desculpa: no Brasil isto é normal. Levou uma descompostura e uma ameaça de processo caso reincidisse.
Agora pasmem. Se pego por mentir, um processo seria aberto para punir o carteiro com a perda do emprego. Mais, o juiz estabeleceria uma indenização por danos morais, paga pelo Estado às vítimas. Afinal, Correio é um serviço público e deve cumprir suas obrigações com a sociedade. Ademais, lá, mentir é antiético.
Aqui, se bobear, meu amigo e o mestre seriam processados por danos à imagem dos Correios. O agente público, impune, seria digno de pena; a verdade considerada coisa de encrenqueiro e a mentira um artifício da oposição e da imprensa golpista. É só ver o exemplo de alguns funcionários públicos e dos nossos políticos em Brasília. Mentir aqui é a praxe. Dizer a verdade é ser inconveniente. Tudo acabaria em pizza!

Luiz Eduardo Caminha
Ratones, Florianópolis, 18.08.2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ensaios sobre a Ética

Prezados amigos,

Segue artigo que tive o prazer de ver publicado no Jornal Folha de Blumenau no endereço:

http://www.folhadeblumenau.com.br/site/noticia.php?noticia=7295&url=noticia.php?noticia=7295


Consciência e Ética


A desobediência de Adão e Eva impõe uma reflexão sobre o momento atual. O Criador entrega ao homem a criação e exige-lhe uma recíproca ética: “jamais comer do fruto da árvore do bem e do mal”. A serpente seduz a mulher: se comerem serão iguais a Deus. A proposta traz, no bojo, o dualismo maniqueísta: obedecer a Deus, o bem ou ceder ao mal, a serpente. Eva cede. Come o fruto, convence Adão e, daí, tomam consciência de que estão nus.

Tapam-se com folhas de parreira e se escondem. O questionamento do Criador é óbvio: não está em jogo a transgressão, mas a consciente liberdade em transgredir. Quem lhes revelou que estavam nus? Adão culpa Eva, que culpa a serpente. Resultado: A serpente condenada a rastejar o resto de seus dias; Adão e Eva expulsos do Paraíso e condenados a trabalhar.

Criado à semelhança do Criador o homem nasce com um sinal divino, a consciência, um sininho que o alerta quando algo é abominável. Alimentada de conceitos que apontam o certo e o errado permite ao homem diferenciar o bem do mal.

O livre arbítrio consente que escolha. Quando vem a ocasião, o sininho toca. Ele recua ou faz que não “ouve”. Se isto ocorre, o sininho cresce. Badala forte. O homem deixa-o de lado. E faz. E erra. E se vê nu. Vestir as folhas da parreira, como se fosse um camaleão, esconder-se, são outros quinhentos. E aí está o problema.

Cônscio do erro espera as consequências. Se lhe são favoráveis ou nem são notadas, se sente poderoso, um deus. Cometer outros deslizes é questão de tempo, “boca de siri”, paciência, oportunidade e... falta de vergonha na cara - Sêneca diria assim?

Do erro, o homem vai ao crime. Encarcera a consciência numa redoma, e silencia o sininho. Cria novos valores, novos paradigmas comportamentais. O mundo é dos espertos, dos que se locupletam. Adere a uma nova raça corrupta, sem ética, onipotente.

Quando flagrado nos desvios, usa a camaleônica máscara da hipocrisia: “não sabia que era errado” ou, pior, “não sabia nada disto”. Sabia, sim. E muito!!! O que lhe faltou foi probidade, ética e, sobretudo, a consciência de executar o bem. Faltou o sininho. Não é o que vem acontecendo na política nacional?

Deus foi inflexível com Adão, Eva e a serpente. E, como a voz do povo é a voz de Deus, resta-me a esperança em crer que o povo expulsará de vez, pelo voto, estas anomalias humanas do Paraíso Planaltino.

Luiz Eduardo Caminha
Floripa, Ratones, 11.08.2009