caminha, caminhando, poetando, vivendo como Deus me permite viver. É assim que vou. É desse jeito que sou. E aqui vão: notícias mensagens, poesias, crônicas, artigos, enfim, tudo que gosto e sou, parte dos caminhos que este caminhante procura seguir. Apenas isto!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nova crônica

Uma nova ética na política

Luiz Eduardo Caminha

Ratones, Florianópolis, 13.05.2009


Na década de 1980, Chico Anísio criou o deputado Justo Veríssimo, seu único personagem político. Com ele, Chico fazia uma crítica social e, nas evasivas, criticava uma nova postura ética subjugada pelo corporativismo e pela corrupção. Justo Veríssimo era a caricatura do político imoral e aético chegado à armações e traquinagens. Qualquer semelhança era mera coincidência”.


Hoje, aquela caricatura parece real. Não são poucos os que utilizam, do povo, apenas e tão somente o voto para se eleger. A partir daí, divorciam-se do eleitor, tornam-se narcisistas e egocêntricos, criando, ao redor de seu umbigo uma órbita de favorecimentos pessoais ou que visam os seus apaniguados - desde que destes também tirem alguma vantagem.


Para Justo Veríssimo, o campo de atuação era aquele minado pelas falcatruas que definia como um novo regime político chamado “corruptocracia”. Ficou célebre seu discurso de lançamento deste novo regime num hipotético país chamado “Corruptolândia”, cuja capital era Corruptília”. Reparam a semelhança? Pois é mera coincidência com os tempos atuais:

“É com emoção e orgulho que me dirijo a esta constelação de ladrões, larápios, ladravazes, lalaus, especulatários, estelionatários e safados dos vários sexos hoje assumidos e conhecidos. Não estou querendo lisonjear os colegas de arrumação e locupletação...”, e por aí afora.


O emérito deputado (assim seria chamado hoje em dia, não?) cunhou dois bordões que ficaram conhecidíssimos: “Eu quero que o pobre se exploda” e “Pobre é que tem mania de ser honesto”. Foi fácil, depois, amplia-lo para os eleitores em geral: “O povo que se exploda”.


Pois agora, o nobre e douto (não é assim o tratamento?) deputado Sérgio Ivan Moraes (PTB/RS) resolveu plagiar Justo Veríssimo. Moraes foi nomeado relator, pelo Conselho de Ética da Câmara, no processo de falta de decoro parlamentar movido contra o deputado Edmar Moreira (MG), aquele do castelo de 25 milhões de reais, por suposto desvio de verbas indenizatórias de seu gabinete para pagar empresa de sua propriedade. Corre contra ele também um Processo no Supremo Tribunal de Justiça por sonegação de INSS – descontava dos empregados e não recolhia ao governo.


Nesta condição de relator Moraes, no alto de sua prepotência e divorciado do clamor popular, emitiu um juízo antecipado do colega: “estão querendo transformar o Deputado Edmar Moreira em “boi de piranha”. Inspirado na lide do tropeiro centro-oestino brasileiro, imprime uma nova dimensão ditada pelo corporativismo: a ética da boiada. Esquece que na ética do tropeiro o boi de piranha é sangrado e morto. Sacrfica-se um boi para as famintas piranhas, mas salva-se a boiada.


Não contente, Moraes ainda invade o mundo da desfaçatez, da indecência, imoralidade, da sacanagem mesmo, do caricato Justo Veríssimo, deixando no ar a fumaça e o cheiro de podridão que estamos cansados de ver e sentir em atos e arrumações de inúmeros iluminados de Brasília – ou seria Corruptília?


Instado pela imprensa e fiel à cartilha de Justo Veríssimo, Moraes pronuncia seu édito de imperador da indecência: “Estou pouco me lixando para a opinião pública” ou fazendo paralelo ao bordão:“O povo que se lixe”. Foi mais além. Em resposta à imprensa que o fustigava cunhou um novo bordão que pecha seus eleitores de burros: “Vocês batem, batem e a gente se reelege”.


O mais deplorável aconteceu na tarde desta quarta-feira. Reunidos, a maioria dos membros do Conselho de Ética e lideranças de partidos aliados, tentavam minimizar as declarações de Moraes, protegendo-o sob o manto do corporativismo, mesmo que o próprio tenha considerado infeliz a sua declaração, embora deixasse claro que não a retirava. O que importa, para eles, a ética na política? Que se danem todos que a defendem. Que se lixe o povo. Vivas à corporação!


A reação do Presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), não podia ser outra: usando da prerrogativa que lhe dá o cargo, destituiu o relator, nomeando o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) para substituí-lo.


Acabou? Não! Com a empáfia de um “cara de pau” e certo da impunidade que campeia neste Brasil, Moraes vai recorrer ao STF apelando para um Mandado de Segurança que lhe permita retomar o cargo. Ético seria se Sua Excelência, o nobre deputado (sim, porque ele continua sendo uma excelência e nobre) procurasse o STF, com a mesma vontade, a fim de esclarecer as dúvidas que pairam sobre ele nos processos que lá correm contra ele desde os tempos em que foi Prefeito de Santa Cruz do Sul.. Mas isto é outra história. De acordo com o corporativismo e com a prática tropeira, agora denominada ética da boiada, é “coisa pra boi dormir”. Só que salva-se boi e boiada e que morra o povo, transfigurado em famélicas piranhas. Dá para aguentar?

11 comentários:

  1. Meu Caro Caminha.

    Deixa eu endereçar este seu relato (crônica) aliás, pertinente e verdadeira, para alguns políticos para ver se consigo pelo menos salvar a indole de alguns deles?

    Está na INTERNET, eu sei, é de domínio publico, mas gostaria de endereçar a eles diretamente, pois não agüento chegar em enterros, encontros festivos, eventos enfim, e dar de cara com esses Caras travestidos de políticos, cumprimentando uma a um, com aquela Cara deslavada, e aquela mão mais nojenta do que barriga de sapo, como se tudo estivesse a mil maravilhas.

    Se me autorizares vou enviar para alguns que tenho aqui listados, inclusive em BRASILIA,

    Abraços e parabéns, FOLGO EM VÊ-LO ASSIM, LÉPIDO (gostou do lépido?) e saudável, falando, e/ou escrevendo verdades e trazendo conhecimentos(cultura) ao nosso povo.

    Abração.

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  2. Prezado Caminha,

    Realmente, é difícil viver vendo bandalheiras políticas todos os dias. A gente segue vivendo de teimoso.
    Tudo de bom!
    Abraços,

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  3. Caminha
    Isto acontece porque o Povo Brasileiro é pacifico demais e também ACOMODADO! Por muito menos em outros países saem nas ruas protestando,um exemplo perto...os Chilenos e os Argentinos.Aqui nada acontece,com o Collor de Mello funcionou;porque nunca mais aconteceu um movimento assim?E foi por bem menos do que agora acontece.
    Cecília

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  4. A tristeza maior é ver a omissão e a pasmaceira do nosso povo diante desses fatos. Ao invés de ouvir e ver as sessões da Câmara dos Deputados e do Senado - como eu e minha mulher fazemos - a maioria das pessoas prefere se anestesiar com as bobagens e abobrinhas da Rede Globo.
    Protestei a vida inteira em meus espaços de rádio, TV e jornais e paguei caro por isso, porque fui vítima de processos (Lei da Imprensa), sendo absolvidos em todos eles. Exercendo a cátedra na UFSM,RS, jamais ocupei cargo algum, função gratificada, benesses de qualquer tipo e jamais tive algum parente exercendo cargo na universidade. A minha independência de opinião me custou caro. Mas não me arrependo por ter tido uma conduta vertebral, viril, justiceira, pois a cada momento recebo o carinho e reconhecimento dos milhares de ex-alunos e o orgulho de meus filhos e netos.
    Aposentado já há algum tempo, uso dos meus blogs para exercer meu sagrado direito ao protesto e à denúncia.
    Por isso, amigo Caminha, minha alegria em ler teu presente texto. É sinal que a gente não está sozinho.
    Parabéns pela tua crônica !
    Como se diz no Rio Grande do Sul, "temos de honrar os culhões que carregamos no meio das pernas", coisa que o deputado em pauta não fez, o que lhe está custando a execração do povo gaúcho e a derrota nas próximas eleições.
    Que Deus te dê, Caminha, vida longa e glória alta entre os homens.
    Abraço fraterno

    James Pizarro

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  5. Grande Caminha!!
    O Povo tem o governo que merece! Tem os deputados que merecem!! tem tudo o que merecem!!
    Afinal, a chance de escolher e colocar em seu governo políticos realmente interessados no progresso do povo e de sua nação, são disperdiçados por vários motivos, entre eles a falta de interesse.
    Pior é nós minoria que votamos consciente, que temos que ouvir esses desvaneios desses ditos "Políticos"
    Grande Abraço,
    Parabéns !
    Família Chugaboom CineTeatro
    www.familymiers.spaces.live.com/
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  6. Estimado Caminha:

    vê-lo em tamanha revolta não me apraz, mas me conforta, ao saber que continuas com a lucidez que te é peculiar.
    Lembro de Rui BArbosa, tão atual e vivo, quando confessa .....sinto vergonha de ser honesto.

    Vivemos um novo mundo, onde vale o se dar bem, a qualquer peço.

    Infelizmente não podemos descer deste bonde, e construir um novo de apresenta cada dia mais longinquo.

    Resta a nós, bois de piranha, o exemplo pessoal, para lembrar a tantos outros que é possível acreditar no resgate do respeito á pessoa humana.

    um Abraço,

    Coimbra - Pomerode.

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  7. Excelente tua crônica buscando em Justo Veríssimo a similaridade com o que vemos de nossos legisladores. Transformou-se em circo a maior casa legislativa do Brasil (as câmaras de vereadores não andam longe).
    Instalaram-se no Brasil, abrigados por milhões de reais, engomados estelionatários protegidos por infernal corporativismo. Entre máfias de delinquentes e máfias de políticos espreme-se a sociedade brasileira.
    Mas ela merece Caminha! Ela vota nesta máfia em troca de bolsas esmola. Como não trocamos nada vamos de roldão!
    Tu não vistes ai pois era o noticiário local da RBS entrevistando o povo de Santa Cruz do Sul na noite de hoje. Pois os cretinos entrevistados (houveram exceções) apoiavam a tal de Vossa Excelência. Vergonha Caminha. A mulher dele, Kelly é prefeita e o filho secretário municipal. Queres mais?
    Há vinte e cinco anos atrás despontava na politíca brasileira um partido dito de trabalhadores que pregava honestidade e decência para o corpo político daquela época. Corpo político os quais nós achávamos desonestos.
    Caminha; eram aprendizes, donzelas e princesas perto do que temos hoje espoliando os cofres públicos. E o tal partido inseriu em nossa vida política métodos muito mais modernos de corrupção. Os pretensos anjos eram diabos.
    Perguntavam-me dias destes por onde andavam os "caras pintadas" que derrubaram Collor.
    É fácil, respondi. Procure-os no Planalto!
    Estamos velhos na roda da vida e no final da capacidade de votar.
    É o início desta roda de eleitores que deveria fazer escolhas melhores. Mas pelo que vejo deverão ficar velhos para julgar suas escolhas.

    abraço e fé companheiro.

    Regis

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  8. Ótimo texto, Caminha!

    Uma forma de alertar o povo sobre as falcatruas dos que se julgama cima de tudo e de todos.

    Parabéns!

    Abraço fraterno,
    Tchello d'Barros
    Maceió/AL

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  9. Oi Caminha
    Teu artigo, como sempre muito propício ao nosso momento.
    Olha que vivo neste meio desde 1976 e nunca vi nada parecido com o que tenho lido e ouvido.
    E se for rastrear a vida política do deputado que tirou o outro vigarista do conselho de ética, garanto que o currículo político dele não vai ser melhor do que o nosso caro deputado gaúcho. E a gente sempre achou que aqui no sul político desta laia não se criava. Este não fica nada a dever ao Jader,Antônio Carlos, Collor ou Renan, nossas pérolas nordestinas e nortistas. Nossa Senhora. Não vejo a hora de não precisar mais votar, pois cada dia mais me convenço que não tem "unzinho" alí que valha o meu voto. Tem um Pedro Simon e um Suplicy, que hoje chegam a ser caricaturas...
    Estou a escrever um artigo também(kakaka).
    Parabéns como sempre.

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  10. Querido amigo, Caminha,

    Está excelente sua coluna. Inteligente e atualizada. Parabéns pela volta!
    Um grande abraço da amiga do Ceará,

    Mônica Silveira.

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Que Deus o abençoe!