caminha, caminhando, poetando, vivendo como Deus me permite viver. É assim que vou. É desse jeito que sou. E aqui vão: notícias mensagens, poesias, crônicas, artigos, enfim, tudo que gosto e sou, parte dos caminhos que este caminhante procura seguir. Apenas isto!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

ENSAIOS 2...

Queridos amigos e irmãos,

aí vai mais um de meus ensaios dando continuidade àquilo que propús no anterior. Talvez alguns encarem como uma provocação, afinal, da maneira como vão as coisas, está cada vez mais fácil admitir que o bicho homem tem feito de tudo para se desfigurar perante Deus e perante seus semelhantes.

Que Deus os abençoe sempre,

Caminha

O SOPRO DA DIFERENÇA
Por Luiz Eduardo Caminha

Continuo a falar sobre o problema das nuances lingüísticas, especialmente da dificuldade que têm as traduções de serem fiéis quando o termo ou a expressão a ser traduzida traz em sua essência um sentimento. Já me referi ao intraduzível “saudade”, de nossa língua, sem similar em outra qualquer. Em outro exemplo citei a tradução da passagem bíblica em que Jesus Cristo cobra de Pedro uma profissão de amor. leia aqui

Quero propor, agora, uma discussão sobre o termo ALMA que, a meu ver, é paupérrimo ao tentar propor o seu verdadeiro significado. ALMA vem do latim “anima”, que quer dizer “vida animada”. Mas o que vem a ser isto? O termo vem dos antigos escritos bíblicos, mais precisamente do Gênesis, quando descreve a criação do homem: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, do barro, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2,7).

Aqui aparece um componente que enriquece a origem do vocábulo que o nosso português traduz por alma. Mais uma vez, o esforço do tradutor acabou por não expressar a essência do termo. Na versão grega da Bíblia – que precede a vulgata latina – há uma confusão ao se tentar tornar claro o gesto do Criador: “o sopro, o fôlego da vida”. Os gregos já faziam uma distinção entre o corpo e a “psique”, o “ser psíquico”, que dominava o corpo, a “id” ou a mente. Ao tentar “cristianizar” a expressão o tradutor da vulgata utilizou-se do vocábulo “anima” (latino) que expressava uma diferenciação do homem (um animal animado) dos outros animais (inanimados).

Quanto rolo, não? Talvez fosse o momento de fazermos um parêntese para vermos aonde estamos pisando.

Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo da língua grega. Foi nesta língua que todo o Novo Testamento foi redigido, incluindo a Carta aos Romanos de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes.

No século IV a Igreja já está consolidada em Roma e em todo o Império Romano e é então que São Jerônimo traduz, pelo menos, o Antigo Testamento para o latim e revê a Vetus Latina. A Vulgata, originária deste trabalho, foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras.

Foi a primeira - e por séculos a única - versão da Bíblia para o latim e apresentou o Velho Testamento traduzido diretamente do hebraico, mas não sem deixar alguns vícios lingüísticos da tradução grega conhecida como Septuaginta.

A pedido do Papa Dâmaso I, São Jerônimo teve a liberdade de adaptar o texto ao latim vulgar e retirou do conjunto os livros considerados apócrifos. A esta versão deu-se o nome de Vulgata que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte para diversas traduções. Com o Concílio Vaticano II foi procedida uma revisão geral da Vulgata e o resultado disto foi a Nova Vulgata que serve de base para as bíblias modernas.

Feito este parêntese, voltemos ao âmago deste artigo.

Fica patente, na versão grega – traduzida do hebraico – o sentido daquele “sopro” que transformou o homem em ser vivente. Melhor dizendo: o homem, um dos animais da Criação, só se diferencia dos outros e é feito imagem e semelhança de Deus, no exato momento em que o próprio Criador sopra-lhe – pelas narinas – aquilo que viria a diferenciá-lo, torná-lo impar: a vida de Deus inserida num animal, no homem, em nós. É aí que somos “animados” como seres viventes, seres que possuem, dentro de si, a essência divina.

É isto também que nos torna “irmãos” porque todos, sem exceção, recebem este “componente genético” - o gen do Criador - se é que assim posso comparar.
É isto que nos torna únicos: este GEN que recebemos diretamente de Deus. Este é o sopro da diferença. Algo só concedido a nós como DOM GRATUITO de Deus. Portanto, não se trata de diferenciar o racional (nós, seres humanos) do irracional (os animais e vegetais). Até porque, não poucas vezes, somos nós os irracionais.

Agora, então, cabe-nos questionar: Quando invejamos, desejamos mal a um outro ser, atentamos contra a natureza, promovemos a violência, quando disputamos espaços e calcamos os outros como se fossem trampolins para nossas vaidades, nossas cobiças, nossas vantagens, nossos egoísmos, estamos sendo “diferentes”? Estamos sendo expressão da imagem que herdamos de Deus? Seguramente que não!

Ora, Deus é bondade, é Amor, é Equilíbrio, é Justiça, é Paz. Só quando trilhamos estes caminhos, estamos impondo aos outros esta diferença. Estamos sendo sua imagem. Sua semelhança. E, sem dúvida, o foco desta nossa maneira de ser é o próximo, o que convive conosco, primeiro na nossa família, depois entre os parentes, os amigos, a comunidade, o mundo que nos rodeia, inclusive a natureza, sim, porque não? Ela é a expressão de toda a obra, da qual somos os seres privilegiados, diferenciados.

Sempre que atentarmos contra um destes vetores estamos desfigurando a IMAGEM DE DEUS EM NÓS! A ALMA, como quer o português. Pior, estamos nos equiparando aos outros tantos animais que, embora obra do Criador, não receberam por parte d’Ele a atenção que nos foi concedida naquele “sopro da diferença”. E quanto não custou a Deus incluir na Criação esta criatura que somos nós? Difícil avaliar? Talvez não. Valeu a vida de Jesus Cristo, o Filho único de Deus. Será que alguém estaria disposto a entregar a vida de algum de seus filhos, mesmo que não o único, por qualquer ser humano? Pois é o que valemos. Apenas porque Deus nos escolheu para sermos a sua imagem e semelhança na Criação. É pouco? Talvez, para uns, não passe de um sopro!

Amor, Paz e Bem que não custa nada a ninguém!

Luiz Eduardo Caminha

3 comentários:

  1. Gostei de teu blog, porque ele foge ao rotineiro mar de abobrinhas em que se transformou o mundo virtual. És sinal de vida inteligente na internet. Parabéns por isso.
    Vim morar em Canasvieiras em março deste ano, depois de 40 e poucos anos de aula na UFSM, RS. Se quiser me visitar, estou aqui :
    www.professorpizarro.blogspot.com
    Abraço

    James Pizarro

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  2. Intensa e bela reflexão! Seu blogue chama a refletir, instiga, provoca, adoro ler seus textos! Este em especial, lembrou-me uma frase: " A ponte para chegar até Deus é meu irmão", mais ou menos isso!

    Obrigada pelas visitas, convido-te sempre a Caminhar sobre as letras do meu blogue!

    Abraços

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  3. Meu grande Irmão Caminha. Que a Paz e a Serenidade do Criador vos acompanhe. Fico feliz em ver que continuas firme e forte em sua torre material. Frente a isso,desejo que vosso templo interior também se fortifique cada vez mais. Quanto ao tema "Alma" creio que o Irmão e Amigo começa a caminhar em terreno pantanoso. Um estudo mais detalhado e aprofundado seria benéfico.

    Abraços,

    Noel Reis

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